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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Deus é Amor.

          
Por
Mario Marcos
         
Deus, no cristianismo, é o ser divino que criou e governa o mundo. Ele é manifesto em três personalidades diferentes: Como Pai, como Filho e como Espírito. Ao Deus Trino crê-se em diferentes atributos entre eles o amor, o mais importante de todos (1 Jo 4,8) e manifesto assim por Paulo em (1 Co 13), a onipotência, a onisciência, a onipresença, a santidade, a Verdade (Jo 14:16), a justiça e a fidelidade.
            Quando falamos em Deus a primeira palavra que se vem à mente é poder, que é o que toda religião e seus deuses demonstram, mas no cristianismo Deus abriu mão desse poder se esvaziou,  se fez carne e habitou entre nós, Jesus se esvaziou demonstrando seu amor abrindo mão do poder para que a relação com o homem fosse possível. E quando Jesus foi tentado a usar tal poder disse, não.
Pai, Filho e Espírito Santo um se esconde atrás do outro, um testifica o outro, um glorifica o outro, cada um joga luz no outro isto se chama (kenósis) esvaziamento. Demonstramos isso através do amor, que é a renúncia de existir para si mesmo, mas de existir para o outro, amar é morrer para si mesmo.   
            O amor de Deus é o assunto de muito debate entre os cristãos. Questões sobre se Deus ama todo o mundo e deseja salvar todos sem exceção são respondidas de formas muito diferentes. Essas questões são importantes. Elas têm a ver com predestinação, o amor eterno de Deus por alguns, e com a morte de Cristo, a grande revelação do amor de Deus.
            Deus deu seu Filho não somente para que vivesse entre os homens e tomasse sobre si os pecados deles, e morresse em sacrifício por eles; o Filho foi dado por Deus a toda humanidade (Jo-3:16). O amor de Deus, acima de tudo, é o seu amor por si mesmo, sua glória, e sua santidade, (1 João 4:16) indica isso quando nos diz que Deus é amor. Em si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, Jesus é a síntese de todo amor. Para ser um Deus de amor, ele não precisa de nós, nem é a sua glória como o Deus de amor incompleta sem nós.


            De eternidade a eternidade ele é amor, em e de si mesmo, na Trindade. Esta é a minha definição do Deus Cristão.

Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. Convalidado pela Faculdade Unida M. 10.1.509. Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Diante de Deus até a tristeza salta de alegria?





Diante de Deus até a tristeza salta de alegria? Será que este texto está correto ou é mais um erro cristão teológico?
Por
Mario Marcos[1]

            Por Ser um pregador itinerante e ter viajado bastante, já tive experiências um tanto quanto engraçadas, já ouvi pastores e líderes estuprarem os textos bíblicos e o pior, passando isso para os membros de suas igrejas "seitas" e esses erros e ignorância teológica se tornado verdades intocáveis. Lastimável.
            Ouço pregadores afirmarem: "Irmãos, se alegrem, porque a Bíblia diz que diante de Deus até a tristeza salta de alegria!". Alguns cantores também, querendo motivar o auditório, ou até mesmo para manipulação da massa e interesse próprio dizem: "Deus está aqui, e a Sua Palavra diz que, diante Dele, até a tristeza tem que saltar de alegria!". Mas, a bem da verdade, a Bíblia não afirma nada disso. A Pedido de uma irmã da minha congregação, que por sinal amo muito e tenho profundo respeito por sua família, fiz esta análise do suposto texto.   O suposto versículo não consta nas Páginas Sagradas. Por outro lado, vejo que muitos interpretam mal um versículo do livro de Jó.
            Veja o que diz Jó 41.22: "No seu pescoço reside a força; diante dele até a tristeza salta de prazer." (Versão Almeida Revista e Corrigida). Na NVI (Nova Versão Internacional) o mesmo texto foi traduzido assim "Tanta força reside em seu pescoço  que o terror vai adiante dele." Já a TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia) traduziu desta forma "No seu pescoço reside a sua força; diante dele salta o espanto". Outra pergunta que deve ser feita ao texto é a quem se refere o pronome prepositivo dele? Será que se refere a Deus? Bem. Antes de responder a esta pergunta, vou transcrever o mesmo versículo mais uma vez agora traduzido  de acordo com a (Versão Almeida Revista e Atualizada): "No seu pescoço reside a força; e diante dele salta o desespero." E agora? "Diante dele a tristeza salta de prazer (alegria)" ou "O terror vai adiante dele" ou "Diante dele salta o espanto" ou ainda "Diante dele salta o desespero"? Parece confuso, haja vista prazer e desespero serem palavras antagônicas, não é mesmo? E terror e espanto  até que dá pra associar a desespero. No entanto, não há qualquer confusão no texto bíblico. A confusão está nas traduções que temos disponíveis em nossas mãos. você que estudou comigo já me ouviu dizer que em português a bíblia é um lixo, kkkkkkkk, acho que agora ta entendendo o eu quis dizer.

            Voltando um pouquinho atrás, vamos saber quem é o dele, mencionado no versículo em análise. Já posso lhe adiantar que não tem nada que ver com Deus. Dizer que "diante de Deus até a tristeza salta de alegria", usando o tal versículo como apoio, é um erro teológico. "Então o texto bíblico se refere ao quê (ou a quem), irmão Marcos, já que não se refere a Deus?", talvez você me pergunte. Antes de lhe responder, sugiro que leia os versículos anteriores, e posteriores, ao 22 do capítulo 41 de Jó.

            Em Jó 40.6, Deus inicia um discurso (lembrando que se trata de uma descrição poética) com Jó, demonstrando o Seu Poder, e neste discurso, que prossegue até o final do capítulo 41, Deus menciona dois animais: o beemote (ou hipopótamo), um quadrúpede selvagem (Jó 40.15), e o leviatã, uma espécie de crocodilo, ou monstro aquático, que possuía escamas duras e pontudas (Jó 41.1,30,31). A quem então se refere o pronome dele? Claro está que se refere ao crocodilo, e não a Deus. Sendo assim, a expressão "diante dele salta o desespero" significa "diante do crocodilo salta o desespero". Na Versão Bíblia Viva Jó 41.22 está assim: "Com sua tremenda força concentrada em seu pescoço, o crocodilo espalha o medo por onde passa." que na minha opinião é a melhor tradução deste texto, o tradutor não traduziu as palavras do texto hebraico, e sim o seu sentido.
            Agora vou colocar o texto em Hebraico, vou transliterar e traduzir ao pé da letra:
תחתיו חדודי חרשׁ ירפד חרוץ עלי טיט (Jó-41:22)

tachtâyvchaddudhêy châres yirpadh châruts `alêy-thiyth (Jó-41:22)

Tanta força reside em seu pescoço que o terror vai adiante dele. (Jó41:22)
"Então quer dizer que está errado o versículo na Versão ARC (Almeida Revista e Corrigida) que diz que 'diante dele até a tristeza salta de prazer'?", alguém poderá indagar, eu respondo sim completamente equivocado.
            Se você tinha (ou tem) por costume citar Jó 41.22 para dizer que diante de Deus até a tristeza salta de alegria, a partir de hoje creio que você evitará dizer isso. Para você não ficar chateada comigo (risos), deixo um versículo que mostra que, na presença do Senhor, há alegrias de sobra: "Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente." (Sl 16.11).
            Espero ter ajudado a você compreender melhor este texto. A paz do Senhor fica com Deus e se precisar é só tocar a trombeta.





[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. Convalidado pela Faculdade Unida M. 10.1.509. Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.  

segunda-feira, 16 de junho de 2014

MULHERES NO LUXO E POBRES NO LIXO















Por

Mario Marcos


Introdução
            Utilizando o método histórico-crítico: tradução do texto, forma, delimitação, data, lugar e por fim assunto de conteúdo. Nesse trabalho, procuramos realizar um estudo exegético tendo por objeto de estudo o texto de Is 3,16-4,1. Por fim, oferecemos uma atualização do texto com uma mensagem para os dias atuais.

1.                  Texto[1]
16 O SENHOR disse:
Já que as filhas de Sião são orgulhosas,
e andam de pescoço esticado
distribuindo olhadelas,
caminhando a passos saltitantes
fazendo tilintar os guizos dos seus pés,
            17 o Senhor cobrirá de sarna o crânio
            das filhas de Sião,
            o SENHOR lhes descobrirá o sexo.
            18 Nesse dia, o Senhor as despojará dos seus adornos:
            guizos, sóis, luas,
19 pingentes, braceletes, véus
            20 turbantes, pulseiras,
correntinhas, talismãs, amuletos,
            21 anéis, argolas de nariz,
            22 vestidos de festa, cachecóis, xales, bolsas de mão,
23 espelhos, camisas de linho, faixas,
Mantilhas.
            24 Em vez de perfume, podridão,
de cinto, uma corda,
de tranças caprichadas, cabeça
raspada,
de roupa fina, tanga de saco,
uma marca infamante em vez de beleza.
25 Teus varões cairão sob a espada,
tua elite, no combate.
25 As tuas portas gemerão e se
lamentarão;
            despojada, estarás sentada no chão.
1 Nesse dia, sete mulheres se atracarão a um só homem, dizendo-lhe:
“Proveremos à nossa comida,
proveremos ao nosso vestir,
desde que possamos usar o teu nome:
tira a nossa desonra!”

1.                  Forma
            Descrição do orgulho das filhas de Sião..........................................v.16
            O juízo às filhas de Sião: Vergonha e despojamento das jóias..........v.17-24
            O juízo às filhas de Sião: Viuvez....................................................v.25,26 e 4,1.
           
2.                  Delimitação
Esta perícope é uma das subunidades dentro de um panfleto (2,1-4,1), provavelmente “um dos ‘livros’ que constituem a memória profética isaiana.”[2], onde temos a “palavra de Javé” (v.16) especificamente para, aqui chamadas, as filhas de Sião.

3.                  Data
Este texto situa-se em primeiro Isaias, portanto é pré-exilíco, após a queda do reino do norte e antes da invasão do reino do sul. Esse panfleto situa-se em torno de 740 a.C.[3]

4.                  Lugar
As subunidades do panfleto 2,1-4,1 são contra Judá e Israel. É provável que tenham sido produzidas para uma comunidade camponesa fora da cidade, pois denuncia o poder que se encontra nas áreas urbanas e, portanto, as vítimas da ingerência social aqui apresentada são os pobres e explorados do campo.

5.                  Assuntos de conteúdo
            No v.16 o texto é introduzido com a palavra de Javé, pois “O SENHOR disse”. É descrito por essa palavra o tom de orgulho a altivez com que algumas mulheres em Sião se comportavam, as expressões como “orgulhosas”, “pescoço esticado”, “distribuindo olhadelas”, “passos saltitantes” e “fazendo tilintar os guizos” falam de atitudes de desdém, de soberba, de insulto contra os pobres dado ao luxo com que essas mulheres viviam, certamente a custa de exploração.
            O v.17 traz o juízo da desonra a essas mulheres, pois teriam suas cabeças cobertas de sarna e estariam com suas partes íntimas a mostra. Ou seja, seriam despojadas de todo o seu luxo e orgulho para serem humilhadas. Certamente, ao que o contexto maior do panfleto nos indica, uma alusão a como os pobres já viviam para que essas mulheres andassem no luxo: despojados de sua honra, “nus” no sentido de estarem “despidos” daquilo que é essencial para a vida: a comida, a moradia, etc. São descritos em detalhe todas as jóias e adornos que essas mulheres possuíam (v.18-23). O v.24 traz o recurso da antítese, pois o juízo prometido era de que ao invés do perfume, do cinto, das tranças caprichadas, da roupa fina e da beleza, essas mulheres receberiam a podridão, uma simples corda, a cabeça raspada, a tanga de saco e uma marca infame. Ou seja, o despojamento dos bens materiais adquiridos certamente pela exploração que seus maridos fizeram contra os mais pobres, e a vergonha.
            A vergonha porque conforme nos indicam os v.25,26 e 4,1, seus maridos seriam mortos ao fio da espada e elas estariam viúvas. Como para uma mulher naquela época e lugar era uma vergonha a viuvez, essas mulheres certamente não teriam mais os luxuosos adornos e mendigariam a comida e a vestimenta. O texto ilustra como os pobres já viviam por causa da exploração: sem honra, sem comida e sem vestido. O autor procurou demonstrar que Javé com o seu juízo viraria esse jogo de cabeça para baixo.
           
                       
6.                  Atualização
            Esse texto é muito interessante para ilustrar os acontecimentos dentro da política brasileira ou mesmo da América Latina ou de todos os países que são explorados. Para que os países desenvolvidos sejam ricos fazendo “tilintar os seus guizos”, isto é, os seus milhões, a sua riqueza e o seu alto desenvolvimento, lugares como a África, e outras tantas terras pobres que foram e têm sido exploradas, ficam a mercê da pobreza. Seus recursos naturais são retirados para que o capitalismo produza bens que vão “enfeitar” as mulheres ricas, porque as viúvas pobres dos países explorados continuam usando “cordas” para amarrarem seus panos de saco, que são suas únicas roupas. Esse texto nos mostra que é preciso desestabilizar essa estrutura exploradora, virar o jogo de cabeça para baixo.

Bibliografia

________.Bíblia Tradução Ecumênica. São Paulo: Loyola, 1994.

SCHWANTES, Milton. Da vocação à provocação: Estudos exegéticos em Isaías 1-12. São Paulo:  Oikos, 2011.




[1] Tradução Ecumênica da Bíblia. Loyola, São Paulo: 1994.
[2] SCHWANTES, M. Da vocação à provocação. São Paulo: Oikos, 2011, p.91.
[3] SCHWANTES, M. Op. citada. p.17

terça-feira, 20 de maio de 2014

Declarando a Glória de Deus.




Estudo do Salmo 19

Por
Mário Marcos[1]

1. Tipo de Salmo
            O Salmo 19 mistura dois tipos, e isso levou muita gente a dividi-lo em dois. De fato, de 1 a 6 temos um hino de louvor, sem nenhuma introdução. Nele o céu e o firmamento, o dia e noite, em silêncio, cantam os louvores  de quem os criou. É, portanto, um hino de louvor ao Deus criador. Mas na segunda parte de 7 a 14 o estilo é sapiencial, apresentando uma reflexão sobre a lei de Javé.

2. Como está organizado
            O que dissemos até agora ajuda a ver como a Salmo 19 está organizado. Tem duas partes, de estilo diferentes: v.1-6 e v.7-14. Na primeira parte (1-6) temos um solene louvor ao Criador do universo: o céu, o firmamento, dia, noite e, sobretudo, o sol, proclamam sem palavras, os louvores de que os fez. O louvor silencioso é o mais importante, pois demonstra que as palavras não conseguem exprimir tudo o que se sente. O sol é comparado como o esposo que sai do quarto, como guerreiro e como atleta que percorre o caminho que lhe foi traçado.
            Na segunda parte (7-14) encontramos um poema sapiencial cujo tema central é a lei de Javé, também chamada de "testemunho" (7b), "preceitos" (8a), "mandamento" (8b), "temor" (9a), e "decisões". São seis palavras para dizer basicamente a mesma coisa. Ao lado de cada uma dessas palavras repete-se sempre o nome "Javé" (nesta segunda parte este nome aparece 7 vezes) e um adjetivo: "perfeita", "firme", "retos", "transparente", "puro", "verdadeiras". Depois de cada uma dessas afirmações apresenta-se um beneficiado: a alma descansa (7a), e o ignorante se instrui (7b), o coração se alegra (8a), os olhos se iluminam (8b). Tudo isso resumido com duas comparações: a lei é melhor que o ouro mais puro (ou seja, é o que há de mais precioso) e é mais doce que o mel (tido como o que há de mais doce). Em outras palavras o poema afirma que a lei é o que há de mais precioso e mais doce (10).
            Esta segunda parte pode ainda ser subdividida. Após ter apresentado o elogio da lei perfeita, o que há de mais precioso e doce, o salmista olha para si próprio, imperfeito, impuro, orgulhoso e pecador (11-13), terminando com um desejo: que as palavras do salmo, em forma de meditação, agradem a Javé, sua rocha e redentor (14).

3. Por que surgiu
            A primeira parte (1-6) do salmo apresenta uma tensão. De fato, quase todos os povos vizinhos a Israel consideravam o sol e os astros como deuses. Para o salmista, o céu e o firmamento são como uma grande tela na qual Deus deixou impressos sinais de seu amor criador. Em silêncio as criaturas falam da grandeza de quem os fez. O dia de hoje entrega ao dia de amanhã uma senha; esta noite entrega à próxima noite a mesma senha; serem anunciadores silenciosos do amor do Criador. Mesmo não usando palavras, a mensagem silenciosa deles chegará aos confins do mundo. Cada dia e cada noite trazem sempre o mesmo anuncio.
             O sol não é Deus, mas sua criatura. Naquele tempo pensava-se que ele girasse ao redor da terra. Por isso supunha-se que, de manhã, da tenda invisível que Deus fez para ele no Oriente, percorrendo como esposo, herói e atleta seu percurso, até entrar de novo em sua tenda no Ocidente. Esposo porque é sinônimo de fecundidade, herói porque ninguém escapa ao seu calor, atleta porque ninguém o pode deter.
            A segunda parte (7-14) também esconde uma tensão com as "nações". De fato, para Israel a grande e insuperável comunicação de Deus se chama "Lei". Foi com ela que deixou bem claro seu projeto e as condições para que Israel fosse seu aliado. O que Israel tem para oferecer as nações? Uma lei perfeita e justa, fruto da aliança com um Deus muito próximo: "De fato, que grande nação tem um Deus tão próximo como Javé nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? Que grande nação te estatutos e normas tão justas como toda esta e lei que lhes proponho hoje?" (Dt-4:7-8).
            Depois de falar da perfeição da lei, o salmista pensa na própria fragilidade (11-14). A lei é perfeita, ele é imperfeito. A lei é pura como ouro purificado, mas ele precisa ser purificado das faltas que cometeu sem perceber. problema maior: o orgulho ou a arrogância, que domina a pessoa, tornando-a responsável de grandes transgressões.

4. O rosto de Deus
            Duas imagens de Deus são muito fortes neste salmo: O Deus da Aliança (7-14), que entrega alei a seu povo, e o Deus Criador, reconhecido como tal por suas criaturas em todo o mundo (1-6).
            O Novo Testamento viu em Jesus o cumprimento perfeito da nova Aliança, aquele que faz ver de forma perfeita o pai (Jo-1:18 e 14:9). Sua lei é o amor (Jo-13:34). Jesus louva o Pai por ter revelado seu projeto aos pequeninos (Mt-11:25) e mandou a prender com os lírios do campo e as aves do céu o amor que o Pai tem por nós (Mt-6:25-30).

5. Aplicação pessoal
            A primeira parte do salmo nos ajuda a aprender a partir da criação, contemplar em silêncio as mensagens que vem das criaturas. Com isso aprendo que devo anunciar meu Deus e seu amor mesmo em silêncio, ou seja, minha vida deve ser um testemunho sem que seja necessário palavras para isso. É um salmo ecológico e cósmico. A segunda parte nos faz entrar em comunhão com projeto de Deus presente na Bíblia, com o mandamento do amor. Faz pensar em nossa fragilidade. É oportuno para quando queremos livrar-nos da arrogância e do orgulho.
           







[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509.Convalidado pela Faculdade Unida, Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Desabafo de um Profeta.



DEUS X RELIGIÃO
Por
Mario Marcos


            Desde a infância luto incessantemente com minhas dúvidas a respeito da existência ou não de Deus.  E nesta busca para responder a essa pergunta, encontrei respostas muito pessoais e cada um deve tirar a sua própria conclusão, mas neste estudo nada cientifico, outra questão me incomodou. O fato de existirem tantas religiões e diferentes credos, até mesmo divisões dentro delas, e o mundo continuar a ser tão carente de paz e amor, me fez questionar a necessidade de termos essas religiões. A conclusão que cheguei é que em verdade, elas são o câncer da sociedade, alimentando rivalidades, guerras, desunião, instigando os fiéis a lutar por mais afiliações a esta ou aquela religião; sempre com o mote da evangelização.
            Desde muito pequeno, fui e sou muito questionador e critico, e simplesmente não me satisfaz apenas ouvir e aceitar o que dizem, sempre há um por que a ser respondido, sempre haverá uma pergunta a ser feita. Assim me pergunto por que o Padre ou Pastor ou Rabino, ou qualquer outro líder espiritual pode me dizer o que fazer da minha vida, será que Deus tem ouvidos apenas para esses iluminados?  Têm-se um só Deus, porque a mensagem é diferente para Cristãos, Judeus e Muçulmanos?  A conclusão parece óbvia.  As mensagens que eles transmitem são mensagens deles e não de Deus, daí tanta divergência. Descobri que devemos buscar nossas próprias respostas, perguntar diretamente a Deus que reside em seu coração e é único, onipresente, onisciente em você irmão.  Não há necessidade de rituais, de regras, de orações decoradas, apenas diga com a voz do coração, e a resposta será imediata, personalizada e única. Não me chame de herege, mas perdi a fé.
            Perdi a fé em um Deus que só realiza “o milagre” se eu tiver fé, perdi a fé em um Deus que só ouve “os escolhidos”, perdi a fé em um Deus que a qualquer deslize meu quer me fulminar, perdi a fé em um Deus que faz acepção de pessoas, ou não pregamos: “Então vereis outra vez a diferença entre o que serve a Deus e o que não serve”? Esta diferença está no meu agir não no tanto que serei beneficiado. Desculpem-me pelo desabafo, mas ganhei uma nova fé, fé em um Deus que celebra a vida, que me ama e que independe do que eu faça para me amar.
            Em minha experiência cristã, deparei-me com uma triste constatação:nem sempre Deus é um elemento relevante, impulsionador e libertador da pessoa. Ao contrário, ao redor de sua imagem se acumulam medos, terrores e cargas morais, repressões ou reduções vitais. Não, Deus nem sempre é uma força que desato os nós, livra os embaraços, torna mais leve o peso da vida ou eleva as pessoas acima das misérias existenciais e cotidianas. Com freqüência, Deus é uma carga pesada, muito pesada. E muitos não se atrevem nem a jogar fora esse fardo.
            Quero poder colaborar para libertar as pessoas desse "Deus" opressor. Gostaria de ajudá-las a descobrirem que essas "imagens de Deus"  não são o Deus de Jesus, mas sua negação. É preciso mudar nossas imagens de Deus. Precisamos distinguir continuamente entre o que é nossa idéia e representação de Deus e o que é Deus. Freqüentemente não o fazemos nem somos ajudados a fazê-lo na igreja. Nós que falamos de Deus - e alguma vez quase todos o fazemos -, com freqüência falamos com pouco respeito ou com distância entre o que são nossas palavras e imagens de Deus e o que é o mistério de Deus. Ninguém nunca viu Deus..(Jo-1:18), mas nos comportamos como se tivéssemos tomado café com ele.
            Deveríamos recordar continuamente o aviso de Karl Barth, um dos maiores teólogos do século XX, nos deixava a respeito de seu discurso sobre Deus: não esqueçais que isso é dito por um homem de Deus. Sempre falamos, homens e mulheres, seres humanos, em linguagem humana, com os condicionamentos humanos. Com freqüência esquecemos isso.
            O pior é que algumas das afirmações e representações feitas com certa leviandade sobre Deus, dentro da igreja, se tornam verdades intocáveis. Não guardam a devida distância em relação ao mistério. Não sabem nem avisam que são homens, por mais importantes que sejam, santos e inteligentes que sejam, que falam do mistério de Deus. Na melhor das hipóteses, deveríamos colocar um aviso generalizado em todas as igrejas evangélicas, paróquias, salas de conferência, catequeses e seminários e intelectuais do mundo: "Lembrem: aqui quem fala de Deus são seres humanos, homens e mulheres". Certamente ajudaríamos, um pouco pelo menos, não confundir Deus com nosso discurso e representações sobre ele.



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Encontro com Deus






Interpretação bíblica do Salmo 15
Mario Marcos Andrade da Silva*


Introdução

            Este trabalho pretende ser uma interpretação bíblica sobre o Salmo 15, nosso objeto de estudo. Para tais propósitos vamos utilizar ferramentas exegéticas, elas nos ajudam a conhecer o texto na sua forma e conteúdo. Abordaremos os seguintes itens: tradução do texto, data, autoria, lugar, gênero literário, forma e poesia, finalmente assunto de interpretação. Além do mais, forneceremos uma conclusão que possa ter relevância em nossa atualidade.

1.      O texto e sua tradução (Sl 15)[1]
           
1Senhor, quem será recebido em sua tenda?
Quem habita na montanha santa?
2 O homem de conduta íntegra
que prática a justiça
e cujos pensamentos são honestos.
3Ele não deixou à solta sua língua,
não fez mal aos outros.
nem ultrajou seu próximo.
4A seus olhos, o reprovado é desprezível;
mas ele honra os que temem o Senhor.
Se se prejudicar em um juramento, não se retrata;
5não emprestou seu dinheiro com usura,
nada aceitou para deitar a perder um inocente.
Quem age assim permanece inabalável.




2.      Data, autoria e lugar

            A datação do Salmo é problemática pelo seu caráter poético. No entanto, tentaremos algumas aproximações a partir das dicas fornecidas pelo mesmo texto.

            O Salmo carece de informações históricas concretas, entretanto, fala de “tenda” (v.1). A referência pode nos indicar que o texto pertence à época pré-exílica. Também ele se encontra entre a coleção dos salmos de Davi que, segundo as pesquisas podem ser localizadas em tempos da monarquia.[2]

            No que concerne a autoria do Sl 15 consideramos o seguinte: aparentemente pertence a Davi porque afirma o cabeçalho. Mas a comunidade acadêmica tem mostrado que estes títulos foram acréscimos posteriores.[3] Porém, não sabemos quem é o autor do Salmo. Ele se apresenta como uma homenagem ao rei Davi.

            Em relação ao lugar, sendo o Sl 15 um fragmento antigo de uma liturgia (v.1a), isto pode nos indicar que o salmista encontrava-se no templo, local onde se reunia a comunidade cultual de Jerusalém (Sl 24,3; 33,14; 125,2).

3.      Gênero Literário
           
            Segundo Bortolini, trata-se de uma liturgia semelhante ao Sl 24.[4] Outro estudioso do saltério, Derek Kidner, também considera que se trata de uma liturgia e o compara a outros textos veterotestamentários como Ex 19,10-15; 1 Sm 21,4-5.[5]

            Podemos dizer que se trata de um salmo litúrgico, pois sua forma e conteúdo mostram parte do acontecimento cultual no templo (v.1).




           
4.      Forma e Poesia
           
Cabeçalho: salmo davídico
Frase principal: Senhor, quem habitará no teu tabernáculo?  (v.1)
Primeira estrofe: Critérios para entrar no templo. (v.2-5a)
Frase conclusiva: Quem assim procede nunca será abalado?  (v.5b)

            Com relação à poesia do Sl 15 podemos considerar sua característica hebraica. Ela se distingue pelo seu modo de repetir o sentido de suas frases. Por exemplo: ao observar o v.1 notamos que a palavra “hospedar-se” pode funcionar como paralelo de “habitar”; enquanto que “tenda” pode ser analisada junto à expressão “monte sagrado”.

            No v.2, a expressão “anda com integridade” vai unida a “pratica da justiça”. Igualmente “falar a verdade” se relaciona antonimamente com “deixar a língua correr”.  “Lesa seu irmão” tem conexão com “insultar ao próximo” (v.3). E “desprezar o ímpio” se mostra como ação contraria a “honrar os que temem a Javé” (v.4a). A ação de “jurar com dano próprio” devem ser estudados, especialmente, com a frase “não emprestar dinheiro com usura” e “nem aceirar suborno” (v.4b-5a). Depois observamos que o texto termina com uma frase conclusiva “quem age deste modo jamais vacilará” (v.5b). Ela conecta com o sentido da primeira frase do Salmo (v.1), deixando o texto como uma unidade literária coesa.  

5.      Assunto de interpretação
           
            O Salmo mostra um padrão de perguntas e respostas. No seu contexto vital existe uma controvérsia em torno da ética para habitar ou entrar no santuário. A teologia do texto se encaixa dentro da tradição profética (Isaías, Miquéias e Amós) que denuncia a exploração justificada pela religião.

            Vemos no primeiro versículo que o salmista faz um questionamento como introdução que dará o tom para o desenvolvimento do texto. É importante destacar a imagem do monte santo, porque segundo a tradição do êxodo (Ex 3.1; 19.2; 24.12), era o lugar de encontro com Deus. Porém, quando o salmista se empenha em indagar quem teria condições para entrar no templo, procura pôr os critérios para quem pretenda se encontrar com Deus.

            No v.2 o salmista começa a indicar esses critérios destacando a prática da justiça, que segundo Isaías 33.15, podemos entender como falar com retidão, ou seja, falar a verdade, que indica um verdadeiro interesse pelo próximo sem buscar benefícios para si; não tirar proveito de pessoas que estão em situação desfavorável; respeitar o direito do próximo e não ter prazer na violência.

            A partir do v.2 se constata que, para a teologia do salmista, a ética cotidiana não estava separada das celebrações litúrgicas. Tudo indica que o espaço sagrado exigia níveis profundos de transformação pessoal.

O Salmo destaca o adequado uso da língua (v.2b-3). Segundo outros textos contemporâneos, a língua podia ser comparada com uma “espada afiada” (Sl 52,4), pelo seu poder de ferir e matar. E, também, como o mesmo texto indica, a língua parecia ser o médio eficaz para “lesar o irmão”, “insultar” (v.3), planejar usura (v.5a), “subornar” (v.5b).  O mau uso da língua procura prejudicar o outro (Pv 6,19), e revela, segundo o conteúdo do texto, dois projetos de vida diferentes: o dos ímpios (v.4a) e o dos que temem a Javé (v.4b).

Logicamente que o Sl 15 apresenta a teologia da retribuição: separação de justos e pecadores e a visão de um Deus que acolhe os bons e despreza os ruins. Mas, o nosso interesse vai se centrar no aspecto de que não se pode servir a Deus sem servir aos irmãos (v.2-5).

            O salmista encerra respondendo a pergunta inicial (v.1) com relação aos que podem entrar ou habitar no monte santo: os v.2-5 deram a resposta. Os que praticam estes preceitos, também localizados em outras referencias bíblicas, (Ex 22.25, Lv 25.35-37; Dt 15.2) estão em sintonia com o desejo de Deus.

Algumas questões para refletir:

            Que lugar ocupa Deus na minha vida? Que lugar ocupam meus irmãos? Onde termina um, onde começa o outro? Existe um limite realmente? Nossa ética está em harmonia com os “sonhos” de Deus? Como tornar a pratica da justiça eficaz em nossas comunidades?

            Respondendo estas perguntas, também saberemos como é nosso encontro com Deus.






*O autor é bacharelando em teologia pelo (ICEC) Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, além de especialista em escatologia e angelologia pelo Ide Missões.
[1] Tradução do texto extraído da Bíblia Tradução Ecumênica, São Paulo, Loyola, 1994.

[2] Nome do autor, Título do livro, Lugar, Editora, Ano, p.15.
[3] José Bortolini, Conhecer e rezar os salmos, São Paulo, Paulus, 2006, p.11-12.
[4] José Bortolini, p.70.
[5] Derek Kidner, Introdução e comentário dos salmos, São Paulo, Vida Nova, 1992, p.97.