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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tetelestai: Consumado está!

TETELESTAI
(Está consumado)
(Jo-19:30)
Por
Mario Marcos[1]












            A história registra as ultimas palavras de grandes homens que morreram crucificados:
David Hume, o ateu, gritou: “Estou em chamas”, seu desespero foi uma cena terrível.
Hobbes, um filósofo inglês: “Estou diante de um terrível salto nas trevas”.
Nietzsche, filósofo alemão: “Se realmente existe um Deus, sou o mais miserável dos homens”.
Jesus Cristo, O Salvador: “Está consumado”.
            
            Esta foi a sexta palavra que Jesus disse na cruz, quando comparamos aos registros dos evangelhos, descobrimos que ele gritou em alta voz: “Está consumado”. Esta declaração não foi o gemido de um homem derrotado, mas o grito triunfante da vitória do filho de Deus, nosso salvador. Aos 33 anos a maioria das pessoas costuma afirmar: “é o começo”, mas nessa mesma idade jesus dizia “Está consumado” ele não disse “Estou acabado”. Não se tratava de um lamento de uma vítma vencida pelas circunstâncias, mas um grito de um vencedor derrotando todos os seus adversários. Na língua grega o significado desta palavra é: “Está consumado, permanece consumado, e estará sempre consumado.



Tetelestai: um termo comum
            Embora essa palavra não seja conhecida de muitas pessoas nos dias atuais, ela era comum quando Jesus ministrava na terra. Os arqueólogos descobriram diversos documentos gregos antigos que tinham esta expressão. Quando o Espírito Santo inspirou os escritores do N.T, guiou-os para usarem uma lingugem comum do povo dos dias de Jesus, e está expressão: “Está consumado” fazia parte da vida diária das pessoas. Vamos explorar estas palavras que eram usadas por alguns indivíduos daquela época e assim entender melhor o que significa as palavras de Jesus na cruz.
            Servos: Os servos e escravos usavam esta palavra sempre que terminavam um trabalho e levavam o fato  ao conhecimento de seus senhores; o servo dizia: “tetelestai”, terminei a tarefa que me destes para fazer. Isto significa que o serviço fora feito como o senhor determinara, e na hora que estabelecera.
            Jesus Cristo é o servo santo de Deus, (Fl-2:5-11)

           Quando um artista completava uma pintura ou um escritor terminava um manuscrito, podia dizer: “Está consumado!” Um servo usava esta expressão para relatar a seu Senhor “(consumei) a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4). Também era usado pelo sacerdote depois de examinar um animal para o sacrifício e de não encontrar nele qualquer defeito. Mas talvez o uso mais importante de “está consumado” seja comercial, quando mercadores diziam: “A dívida está paga!”
            Ao se entregar na cruz, Jesus cumpriu inteiramente os requisitos justos de uma lei santa; pagou toda a dívida. O sangue derramado nos sacrifícios do Antigo Testamento cobria, mas não poderia remover o pecado, somente o sangue de Jesus pôde fazer isto de uma vez por todas (Jo 1.29; Hb 9.24-28).

            Certa vez, um evangelista chamado Alexander Wooten foi abordado por um rapaz irreverente que lhe perguntou: “O que devo fazer para ser salvo?” “É tarde demais!”, respondeu Wooten. E continuou o que estava fazendo. O jovem assustou-se. “Quer dizer que é tarde demais para eu ser salvo?”, perguntou. “Não há nada que eu possa fazer?” “Tarde demais!”, disse Wooten. “Já foi tudo feito! Você só precisa crer.”
             Que Deus continue nos abençoando.






[1] O autor é bacharel em teologia pelo (ICEC) Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, além de especialista em escatologia e angelologia pelo Ide Missões

domingo, 16 de junho de 2013

Deus O Poeta da Vida.



Teologia é poesia: a linguagem poética da fé

                               
 Introdução
Na última aula de Teologia Bíblica desse semestre tivemos a oportunidade de analisar sobre a linguagem poética da espiritualidade. Nesse trabalho pretendo desenvolver um pouco mais a respeito desse conceito, trazendo também a ideia de que a própria Teologia se constitui numa linguagem poética.

Desenvolvimento
O fato de que o objeto de estudo da teologia: Deus, ser na verdade impossível de ser analisado e experimentado em laboratório nos conduz a uma conclusão inescapável: a de que a Teologia é linguagem poética. Não estou com isto dizendo que Teologia não seja uma ciência, afinal, possui metodologia e regras do método científico. Entretanto, por se tratar do estudo de nada mais e nada menos do que o “Grande Mistério” e as relações dos homens e mulheres com ele, nossa linguagem na Teologia é representativa.
Quando falamos de Deus, já falamos em linguagem humana, com elementos próprios de nossa experiência humana. Ao nos referirmos a Jesus, nos referimos ao “símbolo” de Deus para o cristão. Ao falarmos do Espírito Santo, nos referimos àquela “força”, ainda que o tenhamos como pessoa da Trindade, que nos move ao próximo e aos valores de Cristo. Ao nos referirmos aos valores de Cristo, falamos do amor ao próximo e da encarnação, e tudo baseado nas representações da vida de Cristo, que nem sabemos se foi fato ou apenas linguagem religiosa dos escritores dos evangelhos. Portanto, toda a nossa linguagem teológica é representativa e poética, porque ao final das contas, tudo o que de lá tiramos como divino é para nos tornarmos mais humanos.
Não sou o primeiro certamente a defender a essa ideia  Rubem Alves, teólogo brasileiro, já fez muita referência a essa ideia da Teologia como poesia em seus livros. Em um de seus livros escreveu “Ninguém jamais viu Deus. Dele, o que conhecemos são apenas as palavras que falamos. E palavras são como bolsos – espaços vazios que usamos para guardar coisas”[1].

Conclusão
O fato de que a Teologia seja linguagem poética não deve nos tirar a fé. Ao contrário. Nos faz lembrar que a fé está para além da razão. A fé é algo para ser experimentado, encarnado. E nesse sentido a linguagem poética é muito mais rica para descrever do que os simples conceitos, pois o dogma congela, esteriliza, engessa ou seja, é morto. A poesia é viva, sempre passível de novas interpretações dependendo de quem a leia. Se Teologia é poesia, então ela é vida e, portanto tem tudo a ver com encarnação, com experiência, com vida, com amor, com Deus.
Infelizmente sabemos que há teologias que não são poesias porque se transformaram em dogmas imutáveis. Penso que essa teologia nada tem a ver com Deus, tem a ver com homens que desejam apenas a morte. “Escolhei, pois, a vida”.




[1] ALVES, R. O Deus que conheço. São Paulo: Verus, 2010, p.12.

Sem amor eu nada seria.



Análise Exegética de 1 Coríntios 13
Texto
“1Mesmo que eu fale em línguas, a dos e a dos anjos, se me falta o amor, sou um metal que ressoa, um címbalo retumbante.
2Mesmo que tenha o dom da profecia, o saber de todos os mistérios e de todo o conhecimento, mesmo que tenha a fé mais total, a que transporta montanhas, se me falta o amor, nada sou.
3Mesmo que distribua todos os meus bens aos famintos, mesmo que entregue o meu corpo às chamas, se me falta o amor, nada lucro com isso.
4O amor tem paciência, o amor é serviçal, não é ciumento, não se pavoneia, não se incha de orgulho, 5nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor, 6não se regozija com a injustiça, mas encontra a sua alegria na verdade.
7Ele tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8O amor nunca desaparece.
As profecias? Serão abolidas.
As línguas? Acabar-se-ão.
O conhecimento? Será abolido.
9Pois o nosso conhecimento é limitado e limitada é a nossa profecia.
10Mas quando vier a perfeição, o que é limitado será abolido.
11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei homem, pus cobro ao que era próprio da criança.
12Agora, vemos em espelho e de modo confuso; mas então, será face a face. Agora o meu conhecimento é limitado; então, conhecerei como sou conhecido. 13Agora, portanto, permanecem três coisas, a fé, a esperança e o amor, mas o amor é o maior.”[1]

Introdução

Esta perícope, na verdade, se inicia no v. 31 parte b “E além disso, eu vou indicar-vos um caminho infinitamente superior”. Como continuação do texto anterior em que Paulo trabalha a questão dos diversos dons dos membros do corpo de Cristo.
Tem sido chamada de “Hino ao amor”. Uma pergunta que fazemos é sobre o gênero literário: trata-se totalmente de um poema? Há um refrão: “se me falta amor...” que se repete nos  v. 1 ao v.3. Esses três versículos nos remetem mais a ideia de um poema. Portanto eu sugiro que possa existir na verdade aqui mais de uma perícope ou talvez teríamos subperícopes. Sendo a primeira do v.1 ao v.3. Veja a estrutura sugerida para essa primeira:
Subperícope 1 – “Poema ao amor” – v.1-3
1ª Estrofe (v.1)
Mesmo que eu fale em línguas, a dos homens e dos anjos
Se me falta o amor...
Sou um metal que ressoa, um címbalo retumbante.

2ª Estrofe (v.2)
Mesmo que tenha o dom da profecia, o saber de todos os mistérios e de todo o
conhecimento
Mesmo que tenha a fé mais total, a que transporta montanhas
Se me falta o amor...
Nada sou.

3ª Estrofe (v.3)
Mesmo que distribua todos os meus bens aos famintos,
mesmo que entregue o meu corpo às chamas,
Se me falta o amor...
Nada lucro com isso.

A estrutura das estrofes é basicamente assim:

1) Primeiro e às vezes o segundo verso: hipótese de dom ou trabalho efetuado
2) O refrão: “Se me falta o amor”
3) Conclusão: inutilidade, nulidade.


As outras subperícopes poderiam ser dividas da seguinte forma:
           
4 – 7: O que é o amor
           
8 – 13: A permanência do amor diante da transitoriedade dos demais dons




Subperícope 2 – “O que é o amor?” – v.4-7

Esta segunda perícope  ou subperícope, não tem tanto um aspecto de poema. Primeiro, pela falta do refrão e segundo, por ter características retóricas.
Dos versículos 4-6a, Paulo faz afirmações e negações do que é do que não é o amor ágape (no grego). Essas afirmações não são meramente conceituais, mas se baseiam em experiências e ações que expressam o verdadeiro amor.
Dos versículos 6b-7, Paulo usa a retórica para contrapor as negações sobre o amor nos versículos anteriores.

Subperícope 3 – “A permanência do amor diante da transitoriedade dos demais dons” – v.8-13

Ainda usando de retórica, Paulo contrapõe a transitoriedade dos demais dons com relação ao amor que é permanente.
v.8 – Os três dons mencionados no capítulo anterior: profecias, línguas e conhecimento. Tudo será abolido, acabará. (v.9-10).
v.11 – A metáfora da criança que ao se tornar adulto deixa as coisas de criança. Temporalidade. Transitoriedade.
v.12 – A metáfora do espelho. Mostra limite, imperfeição
v.13 – A conclusão do que permanece: o amor.

Conclusão:

Essa perícope pode ser divida em três subunidades ou subperícopes, como queiram chamar. Sendo a primeira de estrutura poética e as duas últimas de função retórica.
Existem discussões sobre o que é essa perfeição que viria (v.10). Em minha opinião, fica muito claro que o perfeito é o próprio amor, o ágape. E que não tem necessariamente um aspecto escatológico e sim como algo que sempre decorre quando o amor acontece. Havendo amor, desaparece ou não se torna mais necessário os demais dons.




[1] Tradução Ecumênica da Bíblia. Loyola, São Paulo: 1994.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Deus tem nome?




Deus tem nome?
            Mark Sameth, formado pelo Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion, rabino da Sinagoga Comunitária de Pleasantville, em Nova Iorque, publicou um polêmico artigo na revista Reform Judaism, em sua edição do primeiro quadrimestre de 2009. No texto, Sameth defende que o verdadeiro nome de Deus, tão buscado por gerações e gerações de judeus, é, na verdade, um nome andrógino, que mescla em equidade "todas as energias masculinas e femininas".

Eis o texto
            Quando Deus começa a criar o primeiro ser humano – Adão – ele diz: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". O texto continua: "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher" (Gênesis 1, 26-27).
            O texto parece estar dizendo (e os rabinos do Talmud e do Midrash entendem dessa forma) que Adão foi criado por Deus como homem e mulher. Os rabinos falam abertamente disso, e até compuseram com esmero relatos especulativos sobre a separação dessa criatura hermafrodita em personagens homem e mulher que conhecemos como Adão e Eva. O que os rabinos não estavam dispostos a discutir abertamente era até onde essa criatura terrena foi criada "b’tzelem Elohim", na imagem de gênero duplo de Deus. Mas se lermos o texto como um místico o leria, prestando uma atenção extremamente grande e assumindo que o texto bíblico mais esconde do que revela, podemos encontrar pistas que se referem à natureza andrógina de Deus. Consideremos, por exemplo, que a Torá: identifica Moisés como um pai que amamenta (Números 11, 12) [1] nos diz que Adão deu o nome de Eva a sua esposa "ki hu hay’tah eim", "porque ele era a mãe de todos os seres vivos" (Gênesis 3, 20) [2] narra que Abraão instruiu o seu servo para estar atento a uma mulher que irá dar água aos camelos porque "hu ha’ishah", "ele será a mulher" para o meu filho (Gênesis 24, 44) [3] e a lista continua.
            Por que a Torá repetidamente confunde os gêneros de seus personagens principais? A que a Torá está aludindo? Eu acredito que esses não são erros/enganos de escrita, mas a verdadeira chave para abrir um dos mistérios mais permanentes da Torá.
            Mas antes uma nota sobre as muitas ocorrências estranhas na Torá sobre os nomes. O nome do nosso patriarca Jacó é duas vezes modificado para Israel. Faraó não é um nome. E Moisés não é um nome. Moisés, em egípcio, significa "nascido de" – assim como no nome Tutmosis (nascido de Tut). Consideremos: se o nome do nosso grande líder Moisés não é realmente um nome, ele significa alguma outra coisa? De um modo interessante, se soletrarmos o nome Moisés em hebraico de trás para frente, Moshe se torna HaShem, que literalmente significa "O Nome", uma das formas dos judeus se referirem a Deus.
            Então, consideremos: se o nome de Moisés soletrado de trás para frente se torna HaShem, refletindo a natureza divina do ser humano, o nome de Deus, soletrado de trás para frente, não deveria refletir, da mesma forma, algo essencial sobre o gênero humano? De fato, sim. Observem o Yod-He-Vau-He [YHWH], o inefável nome de Deus. Conhecido como o Tetragrammaton, permitiu-se que o Nome fosse usado nas saudações diárias pelo menos até o ano 586 a.C., quando o Primeiro Templo foi destruído (Mishnah Berakhot 9, 5). Nesse tempo, sua pronúncia era permitida apenas aos sacerdotes (Mishnah Sotah 7, 6), que o pronunciavam em sua benção pública ao povo. Depois da morte do Sumo Sacerdote Shimon HaTzaddik, por volta do ano 300 a.C., (Talmud Babilônico, Tractate Yoma 39b), o nome foi pronunciado apenas pelo Sumo Sacerdote no Santo dos Santos no Yom Kippur (Mishnah Sotah 7:6; Mishnah Tamid 7, 2). Os sábios passavam a pronúncia do Nome aos seus discípulos apenas uma vez (alguns dizem duas vezes) a cada sete anos (Talmud Babilônico, Tractate Kiddushin 71a). Finalmente, com a destruição do Segundo Templo em 70 a.C., o Nome nunca mais foi pronunciado.
            Mais tarde, alguns especularam que o Nome era pronunciado como "Jeová" ou possivelmente "Yahweh", mas os estudiosos não concordaram. Ninguém sabia com certeza como se pronunciava o inefável Nome de Deus.
            Mas e se o Yod-He-Vau-He foi por muito tempo impronunciável pela simples razão de que está escrito ao contrário? De trás para frente, o Nome de Deus se torna He-Vau-He-Yod. E essas duas sílabas, He-Vau e He-Yod, podem ser vocalizadas como os sons equivalentes dos pronomes hebraicos "hu" e "hi", que são traduzidos como "ele" e "ela" respectivamente. Combinando-os, He-Vau e He-Yod se torna "Ele-Ela".
            Ele-Ela, eu acredito, é o impronunciável Nome de Deus! Esse segredo esteve escondido a olhos vistos durante todos esses anos, porque se afirma explicitamente na Torá: Deus criou a terra e as criaturas à própria imagem de Deus, masculino e feminino.
            É desnecessário dizer que a noção de um Deus andrógino que cria essencialmente seres humanos andróginos tem profundas implicações. Há muito tempo, o Zohar, o livro de misticismo judeu por excelência, declarou: "É de incumbência de um homem ser sempre masculino e feminino" – uma afirmação estranha, especialmente no século XIII. Mas a nossa sociedade recentemente começou a mostrar sinais de ser capaz de entender e de querer aceitar essa mensagem. O Dr. James Garbarino, um dos especialistas mais influentes da nossa geração em desenvolvimento de crianças, observa que as chamadas "meninas tradicionais que tem apenas características 'femininas' estão em desvantagem no que se refere ao coping [4]" e os chamados meninos tradicionais também estão em desvantagem. "Combinar os traços tradicionalmente femininos com os traços masculinos", escreveu Garbarino em "See Jane Hit", "contribui para uma maior resiliência".
            O rabino Jeffrey Salkin, autor de "Searching for My Brothers", indica que as culturas judaicas e ocidentais mantiveram por muito tempo perspectivas diferentes sobre a questão da androginia. Enquanto a cultura ocidental diz "seja um homem", ele explica, a mensagem da cultura judaica sempre foi "seja um homem bom". Ser um homem bom – o que ele define como "masculinidade madura" – é "uma combinação tanto de traços masculinos quanto de femininos". Em seu famoso livro "Deborah, Golda, and Me", a feminista judaica Letty Cottin Pogrebin desafia os judeus a "ampliar a capacidade do homem para as expressões emocionais e para o cuidado com a família, e a expandir as opções das crianças independentemente de seu gênero. É possível", ela pergunta retoricamente, "que maiores oportunidades para as crianças, homens mais amorosos e mulheres mais competentes e confiantes não sejam bons para os judeus?".

            Ao discutir o patriarcado em "The Torah: A Women’s Commentary", Rachel Adler comenta que o mundo "implora por reparos" – não apenas por causa das mulheres, mas por causa dos homens também. O trabalho do judaísmo reformado – de fato, o trabalho de todas as comunidades religiosas progressistas e igualitárias do mundo – requer um compromisso sempre mais profundo com esse reparo. Isso significa esforçar-se pela integridade em nós mesmos; com os nossos familiares; na relação entre si mesmo e a comunidade; e na relação entre as comunidades individuais e o mundo como um todo. Significa fazer tudo o que fizermos, nas palavras dos nossos místicos antigos, "l’shem yichud", basicamente pela causa da unificação de Deus.
            Agora, baseados nessa nova compreensão de Deus como Ele-Ela, é o momento de livrar-nos da concepção estereotipada de Deus como um velho homem com uma longa barba branca nas nuvens. Pensar em Deus como Ele-Ela nos concede a liberdade de ver a Divindade como a totalidade de toda a energia masculina e feminina.
            É o momento de considerarmos a mudança de nossas orações mais sagradas, particularmente aquelas que se referem a Deus como Senhor. Os antigos rabinos empregaram a palavra "Senhor" (Adonai, em hebraico) como um substituto respeitável para o impronunciável Tetragrammaton e recentemente alguns judeus reformistas – incluindo os editores de "The Torah: A Women’s Commentary" – preferiram não usá-lo. Com essa nova cognição do Tetragrammaton, podemos revisitar confiantemente nossa declaração de fé: "Shema Yisrael, Adonai Elohenu, Adonai Echad – Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um" (Deuteronômio 6, 4) e afirmar, pelo contrário: "Shema Yisrael, Adonai Elohenu, Adonai Echad – Escuta, Israel, Ele-Ela é nosso Deus, Ele-Ela é Um". É o momento de afirmarmos que a tradição de igualdade de gênero da reforma do judaísmo – que deu poder às mulheres para se tornarem rabinas, cantoras e líderes leigas da congregação – não é uma invenção moderna e, de certa forma, menos autêntica, mas sim emblemática da mais antiga concepção de Deus do judaísmo.
            E é o momento de repensarmos como escolhemos passar adiante a nossa herança às próximas gerações. Se você já tentou ensinar Deus a uma classe de estudantes judeus precoces, você provavelmente já ouviu aquele sussurro do fundo da sala: "Sim, claro". Bem, recentemente eu aproveitei a oportunidade e ensinei a minha turma pós-bar/bat mitzvah a minha idéia do nome secreto de Deus e seu significado. Então, discutimos sobre o que isso implicaria em nossas relações entre nós mesmos e com Deus. Quando terminamos, uma das jovens voltou-se para os outros que estavam sentados ao redor da mesa e disse as palavras pelas quais os rabinos dão sua vida: "O judaísmo", ela exclamou, "é tão legal".

Notas:
1. O versículo, na edição Ave Maria, diz: "Porventura fui eu que concebi esse povo? Ou acaso fui eu que o dei à luz, para me dizerdes: leva-o em teu seio como a ama costuma levar o bebê, para a terra que, com juramento, prometi aos seus pais?".
2. "Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes", na edição Ave Maria. Ou "O homem chamou sua mulher Eva, por ser a mãe de todos os viventes", na Bíblia de Jerusalém.
3. "A jovem que vier buscar água e a quem eu disser: Dá-me de beber, por favor, um pouco de água de teu cântaro, e que responder Bebe, não somente tu, mas tirarei água também para os camelos, essa deverá ser a mulher que o Senhor destinou para o filho do meu senhor’."

4. Coping é o termo da psicologia utilizado para designar o conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais desenvolvidas pelo sujeito para lidar com as exigências internas e externas que são avaliadas como excessivas (circunstâncias adversas ou estressantes), ou as reações emocionais dessas exigências.

domingo, 28 de abril de 2013

DO TABERNÁCULO DE MOISÉS AO TEMPLO DE SALOMÃO






DO TABERNÁCULO DE MOISÉS
 AO TEMPLO DE SALOMÃO 
Por Mario Marcos1

     A palavra Tabernáculo vem do latim tabernaculum, "tenda", "cabana" ou "barraca" e designa o santuário portátil onde durante o Êxodo até os tempos do Rei Davi os israelitas guardavam e transportavam a arca da Aliança, a menorá e demais objetos sagrados. Em hebraico se chamava mishkan, משכן , "moradia", (local da Divina morada). Também se denominava mow'ed, מוֹעֵד , "Tenda da Reunião". Era composto de três dependências: Átrio Exterior, Santo Lugar e Santo dos Santos. 
Os objetos sagrados que acompanhavam o tabernáculo eram:

 No Átrio Exterior
      Altar do Holocausto - onde eram oferecidos os sacrifícios a Deus. 
    Bacia - Onde os Sacerdotes lavavam os pés e as mãos simbolizando uma purificação para entrar no Santo Lugar.

No Santo Lugar
     Altar do incenso - Localizado do lado oposto a entrada, no fundo, pouco antes do véu que separava do Santo dos Santos. Era usado para se queimar incenso pela manhã e à tarde pelos sacerdotes.
   Mesa dos Pães da Proposição - Ficava logo à direita da entrada. Tinha esse nome pois todo Sábado eram colocados 12 pães, simbolizando as 12 tribos de Israel em cima dela.
   Candelabro de Ouro - À esquerda da entrada, com sete hastes. Era diariamente enchido pelos sacerdotes para que nunca se apagar, Somente enquanto estava sendo transportado.

Santo dos Santos
     O Véu - Cortina que separava o Santo Lugar do Santo dos Santos.
Arca da Aliança - Simbolizava a Presença de Deus e carregava as Tábuas da Lei - os 10 Mandamentos - a Vara de Aarão, que floresceu e o pote de maná (alimento mandado por Deus no deserto). Era a peça mais santa do Tabernáculo. 
     Propiciatório - Nada mais do que a tampa da Arca. Era o lugar onde o Sumo Sacerdote, uma vez ao ano, no dia da Expiação, aspergia o sangue pela remissão de seus pecados e pelos pecados do povo.
    
     Tabernáculo pode também designar o sacrário, um pequeno cofre colocado sobre o altar das Igrejas onde são guardadas a píxide ou a custódia, onde está a Eucaristia.
  
     O Templo de Salomão (no hebraico בית המקדש , Beit HaMiqdash), foi, segundo a Bíblia Hebraica, o primeiro Templo em Jerusalém, construído no século XI a.C., e teria funcionado como um local de culto religioso judaico central para a adoração a Javé, Deus de Israel, e onde se ofereciam os sacrifícios conhecidos como korbanot. 
Intervenção de Davi 
     O Rei Davi, da tribo de Judá, desejava construir uma casa para Jeová (YHWH), onde a Arca da Aliança ficasse definitivamente guardada, ao invés de permanecer na tenda provisória ou tabernáculo, existente desde os dias de Moisés. Segundo a Bíblia, este desejo foi-lhe negado por Deus em virtude de ter derramado muito sangue em guerras. No entanto, isso seria permitido ao seu filho Salomão, cujo nome significa "paz". Isto enfatizava a vontade divina de que a Casa de Deus fosse edificada em paz, por um homem pacífico. (2 Samuel 7:1-16; 1 Reis 5:3-5; 8:17; 1 Crónicas 17:1-14; 22:6-10).
     Davi comprou a eira de Ornã ou Araúna, um jebuseu, que se localizava monte Moriah ou Moriá, para que ali viesse a ser construído o templo. (2 Samuel 24:24, 25; 1 Crónicas 21:24, 25) Ele juntou 100.000 talentos de ouro, 1.000.000 de talentos de prata, e cobre e ferro em grande quantidade, além de contribuir com 3.000 talentos de ouro e 7.000 talentos de prata, da sua fortuna pessoal. Recebeu também como contribuições dos príncipes, ouro no valor de 5.000 talentos, 10.000 daricos e prata no valor de 10.000 talentos, bem como muito ferro e cobre. (1 Crónicas 22:14; 29:3-7) Salomão não chegou a gastar a totalidade desta quantia na construção do templo, depositando o excedente no tesouro do templo (1 Reis 7:51; 2 Crónicas 5:1).

Aspectos da construção 
     O Rei Salomão começou a construir o templo no quarto ano de seu reinado seguindo o plano arquitectónico transmitido por Davi, seu pai (1 Reis 6:1; 1 Crónicas 28:11-19). O trabalho prosseguiu por sete anos. (1 Reis 6:37, 38) Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram ou Hirão, o rei de Tiro, forneceu madeira do Líbano e operários especializados em madeira e em pedra. Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao Líbano em equipes de 10.000 a cada mês. Convocou 70.000 dentre os habitantes do país que não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis 5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 550 homens e, ao que parece, 3.300 como ajudantes. (1 Reis 5:16; 9:22, 23)              Salomão mandou entalhar grandes pedras (1Reis 5:15) que eram encaixadas umas nas outras, de forma que não se usavam ferramentas para entalhar na obra (não se ouviam martelos ou instrumentos de ferro na obra).
No templo se utilizava escada tipo caracol para subir aos dois pavimentos superiores (1 Reis 6:8).
      Foi um período extremamente prospero para a nação, neste período Salomão passa a criar cavalos, institui trabalhos forçados para os nativos da terra (cananeus) contrariando a palavra profética escrita no livro de Deuteronomio 17:14 a 17: chegando na terra prometida, buscariam ter reis e nunca poderiam tornar-se semelhantes ao Egito. Este período de prosperidade só foi possivel após as guerras vencidas por Davi, seu pai, conforme relata o prórpio Salomão em 1 Reis 5:3, esta foi a forma de Javé não dar condições para Davi realizar a obra. 
     O templo tinha uma planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos ou Santíssimo, sendo maiores do que as do tabernáculo. O Santo tinha 40 côvados (17,8 m) de comprimento, 20 côvados (8,9 m) de largura e, evidentemente, 30 côvados (13,4 m) de altura. (1 Reis 6:2) O Santo dos Santos, ou Santíssimo, era um cubo de 20 côvados (8,9 m)de lado. (1 Reis 6:20; 2 Crónicas 3:8)
     Os materiais aplicados foram essencialmente a pedra e a madeira. Os pisos foram revestidos a madeira de junípero (ou de cipreste segundo algumas traduções da Bíblia) e as paredes interiores eram de cedro entalhado com gravuras de querubins, palmeiras e flores. As paredes e o tecto eram inteiramente revestidos de ouro. (1 Reis 6:15, 18, 21, 22, 29) 
     Após a construção do magnífico templo, a Arca da Aliança foi depositada no Santo dos Santos, a sala mais reservada do edifício. Anos posteriores. Teria sido pilhado várias vezes e teria sido totalmente destruído por Nabucodonosor II da Babilónia, em 586 a.C., após dois anos de cerco a Jerusalém. Os seus tesouros teriam sidos levados para a Babilónia e tinha assim início o período que se convencionou chamar de Exílio Babilônico ou Cativeiro em Babilónia na história judaica. Décadas mais tarde, em 516 a.C., após o regresso de mais de 40.000 judeus da Cativeiro Babilónico foi iniciada a construção no mesmo local do Segundo Templo. O rei Herodes, o Grande, querendo agradar os judeus reconstruiu o templo, que foi destruído pelo general Tito em 70 EC, pelos romanos, no seguimento da Grande Revolta Judaica. Hoje o que resta, erguido, do Templo de Herodes é o Muro das Lamentações, usado por judeus ortodoxos como lugar de oração.

[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509. Convalidado pea Faculdade Unida, Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.  





quarta-feira, 10 de abril de 2013

O PROFETA DAS VISÕES







O PROFETA DAS VISÕES
(Breve comentário sobre Ezequiel)



Por
Mario Marcos[1]

           

INTRODUÇÃO
            Ezequiel: um homem, sem dúvida, descontente, de gênio tão variado, tão rico, tão complexo, que seu livro se nos apresenta denso e difícil de percorrer. Todavia este livro dá testemunho de um homem que viveu um dos momentos mais dramáticos da história de Israel e cuja experiência espiritual é uma das mais aptas a esclarecer o destino do povo de Deus. Não será, então, de particular atualidade?
            A personalidade de Ezequiel reflete uma força mística. A proximidade do seu contato com o Espírito suas visões e a freqüência com a qual a palavra do Senhor vinha até ele fornece um paralelo entre os profetas extáticos mais antigos e os profetas escritores clássico. Suas experiências espirituais também anteciparam a atividade do Espírito Santo no NT. A ele adequadamente pertence o título de “carismático”.
            A mensagem de Ezequiel foi endereçada ao resto dos pervertidos de Judá e aos exilados na Babilônia. A responsabilidade moral do indivíduo é um tema de primeira importância em sua mensagem. A responsabilidade coletiva não mais resguarda o indivíduo. Cada indivíduo deve aceitar uma responsabilidade pessoal pela desgraça da nação. Cada indivíduo é responsável pelo seu pecado individual (18-2-). Foi o peso do pecado acumulado de cada indivíduo que contribuiu para o rompimento do concerto de Deus com Israel, e cada qual leva uma porção da culpa pelo julgamento que resultou no exílio para a Babilônia.
 

O LIVRO DE EZEQUIEL
            Sua estrutura se apresenta simples e lógica. Depois do relato da vocação do profeta (1:1-3:21), vem os oráculos que anunciam o julgamento de Jerusalém (3:22-24:27) , o castigo das nações (25-32) e a restauração do povo aniquilado (33-37). O livro se completa nas vastas perspectivas de um horizonte distante: aos olhos do leitor, desenrola-se inicialmente a decisiva batalha do povo de Deus diante de terríveis inimigos (38-39); depois se desenha a silhueta da montanha sobre a qual Ezequiel vislumbra a capital futurista do povo de Deus renovado (40-48).
            Mas, depois de ultrapassado esse esquema, bastante lógico, o livro espanta por certa liberdade que aparenta desordem. Assim, no interior do cap. 34, os temas do pastor e do rebanho se desenvolvem em sentidos diversos (inspirados, é verdade em Jr-23;1-6), e o cap. 1 contem um acúmulo de detalhes estranhos, aparentemente supérfluos – as rodas, por exemplo – ou então acrescentados em detrimentos de coerência gramatical. Os discípulos de Ezequiel têm grande responsabilidade nessa desordem. Aparentemente indiferentes a toda lógica, fragmentaram seus oráculos: (3:22-27) (4:4-8) (24:15-27) e (33:21-22) poderiam ser os membros dissociados de um relato contínuo; ou então aproximaram indevidamente oráculos independentes, unindo-os por um vínculo fictício: assim é que o termo de encadeamento “espada” (cap. 21) serve de elo entre os parágrafos alheios uns aos outros: a espada do Senhor (21:6-12), espada bem afiada (21:13-22), do rei da Babilônia (21:23-32), erguida contra os amonitas (21:33-37); esses discípulos chegaram a repetir várias vezes os mesmos oráculos: “os justos caminhos do Senhor” encontram-se – idênticos, ou quase – em (18;1-32) e (33:10-20).
            O próprio Ezequiel não é totalmente estranho à atual fisionomia de seu livro; foi ele o primeiro a sobrecarregar as frases com detalhes, os capítulos com parágrafos, todos portadores de uma doutrina capital, mas sem compromisso com a harmonia primitiva: assim aconteceu-lhe completar os relatos das visões (1-3; 8-11) ou de certo gesto profético (4:4-17) etc. Aliás, era o que desejava seu gênio variado, instável, quase doentio, por assim dizer. Não o vemos prostrado (3:15), mudo (3:26), talvez paralisado (4:4-8)? Esse gênio não consegue defender-se da atração dos extremos: é fulgurante e meticuloso, pronto para o sublime e para o trivial; deixa-se seduzir pelo peso do barroco, deixa-se levar pela embriaguez do surrealismo (ver os poemas da águia: 17:1-10; do dragão: 32:1-8), e em seguida encerra sua imaginação impetuosa e sua frase redundante nas frias distinções de um casuísta (caps. 18 e 33), na monótona descrição de uma geografia de computador (caps. 47 e 48), na seca enumeração de dados arquitetônicos (caps. 40 e 42) ou nos parágrafos cansativos de rubricas minuciosas (44:46). È ainda ele que se deixa guiar pelos marcos preciso da história – as alusões históricas são numerosas no plano de fundo dos capítulos 16 e 19, ou nos diversos oráculos contra as nações – e que mostra familiaridade com riquezas inesgotáveis, perspectivas fugidias e indefinidas da evocação mística: o homem primordial e o jardim do Éden (cap.28), a árvore cósmica (cap. 31), as regiões infernais (cap. 32).
            O livro de Ezequiel faz parte da subdivisão chamada Profetas maiores do cânon hebraico e encontra-se logo após Isaías e Jeremias. A Bíblia em português adota a ordem da Septuaginta e coloca Ezequiel após Lamentações. Apesar do livro sempre ter feito parte do cânon hebraico, estudiosos judeus posteriores questionam seu valor pelas aparentes discrepâncias entre sua interpretação do ritual do templo e as prescrições da lei mosaica (Divergência no número e nos tipos de animais sacrificados na Festa da Lua Nova (Nm 28.11 e Ez 46.6). Os rabinos finalmente restringiram o uso público e particular de Ezequiel.

O PROFETA EZEQUIEL
            Ao longo deste livro, cuja estrutura e estilo já esboçam a silhueta de alguém, finalmente aparece um personagem, Ezequiel, o profeta. Ezequiel, cujo nome significa “Deus fortalece” é identificado como o filho de Buzi, o sacerdote (1:3). Embora essa identificação tenha sido questionada, parece não haver uma razão válida para se duvidar disso. Ele era, provavelmente, um membro da família sacerdotal dos Zadoqueus, que se tornaram importantes durante as reformas de Josias 621 a.C. Ezequiel passou seus vinte e cinco primeiros anos da sua vida em Jerusalém. Estava se preparando para o serviço sacerdotal do templo quando foi levado prisioneiro à Babilônia em 597 a.C. Ezequiel desenvolveu a sua atividade profética na Babilônia entre os anos 593 e 571 a.C. representando a passagem da profecia pré-exílica para o período pós-exílio. De fato, a sua atividade desenvolveu-se em plena fase que antecedeu a destruição de Jerusalém (em Janeiro de 587 a.C.) e durante o período de cativeiro na Babilônia.   
            Contemporâneo da queda de Jerusalém (587 a.C), às vezes da à impressão de ter começado sua pregação na capital palestina, antes de continuá-la e de levá-la a termo entre os deportados, às margens do rio kebar.  Assim se explicaria melhor, entre outras coisas, a minuciosa descrição de todos os gestos idolátricos realizados no Templo (cap.8). Mas o argumento parece pouco convincente, a maioria dos comentadores julga que toda a atividade profética de Ezequiel se desenrola em terra babilônica, junto a uma cidade: Tel-Abib; o profeta fora levado pra lá antes da destruição de Jerusalém, por ocasião das primeiras gazuas palestinas de Nabucodonosor (598 a.C). São registradas as datas de certos oráculos. A visão celestial do capítulo 1 não é confiável (tratarei deste assunto ao analisar alguns textos), mas as outras são dignas de atenção. A visão dos pecados de Jerusalém (8:1) é situada no sexto ano (do exílio do rei Joaquim, que é também o de Ezequiel), ou seja, exatamente 17 de Setembro (mês de elul no calendário judaico) de 592 a.C. o oráculo da panela (24:1) é datado do nono ano, ou seja, 15 de dezembro (mês de tevet no calendário judaico) de 589 a.C. dia em que Nabucodonosor começou o cerco de Jerusalém; outros são datados no décimo ano 588, no tempo em que o faraó do Egito se encontra em má situação (29:1); no décimo primeiro, em 587 (26:1), no décimo segundo, ou seja, no início de 585 (33:21), no vigésimo quinto, em 573 (40:1), e por fim no vigésimo sétimo em 571 (29:17).

A MENSAGEM DE EZEQUIEL
            É, pois, na Babilônia que se desenvolveu a atividade daquele que era até então um sacerdote e que conservou, até o fim da vida, sua mentalidade de sacerdote perito em culto, liturgia, rubricas e sacristias (caps. 40-48); é lá ainda que, de repente, ele se transtorna. Produzem-se dois acontecimentos: a irrupção da glória de Deus fez desse sacerdote um profeta, e a queda de Jerusalém transformam o pregador de condenação em pregador de salvação. Vamos analisar estes dois fatos:
            A irrupção da Glória: Eis, pois, que a partir de certo dia, a vida de Ezequiel é como que invadida pela glória do Senhor. Ela se mostra em várias ocasiões (1:28; 3:23; 8:4; 10:1; 43:2), deixando-o todas as vezes atônico, extasiado (3:15).
            Que vê ele? No meio de uma grande nuvem, precedido pelo sopro da tempestade, um fogo em forma de redemoinho; e depois, seres vivos. São quatro; eles voam, sustentam um firmamento sobre o qual aparece um trono. Acima, há como o aspecto de homem, com uma claridade ao redor dele... É o aspecto da glória do Senhor (1:4-28).
            No fundo, o profeta está em vias de reviver, mas com gênio diferente e noutro contexto, a visão de seu grande predecessor, Isaías. Ele acaba de receber a revelação esmagadora da transcendência do Senhor, da Glória daquele que é o rei de toda a terra (Is-6:3). Este último ponto está ausente da descrição inicial de Ezequiel, mas o profeta sugere sua verdade acrescentando traços secundários, com o risco de obscurecer sua intuição primordial. Assim se explica a longa descrição desses animais fantásticos, tomados do bestiário mítico dos babilônios, que o profeta se compraz em ver a serviço do Senhor; ou ainda a presença, totalmente supérflua, de rodas alucinantes que mostram ao seu modo que a Glória é onipotente em todos os lugares.
            Esmagado por essa revelação, Ezequiel percebe violentamente sua pequenez; em face da Glória ele não passa de um ínfimo e derrisório filho de homem, hesitante atônito (1:28; 2:2; 3:14-17; 22:24); sobre ele a mão do Senhor (1:3; 3:22; 33:22; 37:1; 40:1) caiu (8:1) pesadamente (3:14); sobre ele também, o Espírito do Senhor vem (2:2; 3:24), (11:5), para arrebatá-lo (3:12.14; 8:3; 11:1.24; 43:5).
            Mas o profeta percebe a Glória que sai do templo e se afasta de Jerusalém (11:22.23). O Senhor deixa Sião! Por quê? Como?
            Ezequiel descobre no pecado de Israel o motivo de tão dramática separação; o pecado de Israel é o mau endêmico do qual ele procura entrever a gravidade, a extensão, a profundidade. O pecado é o ato de violência, o crime em que o sangue é derramado (7:23; 9:9; 16:36; 18;10 etc.), que, pelo menos uma vez põe em pé de igualdade com a idolatria (36:18). Pois o pecado capital é para ele, a idolatria (14:1-8), que ele vê praticada sobre toda a colina, sob as árvores (6:3.6.13; 16:16; 20:28.29) e até no templo de Jerusalém (cap. 8). Encontra seus sinais na entrada do pórtico interior (vv. 3-6), no adro (vv.7-13), no santuário de Senhor (vv. 14.15) entre o vestíbulo e o altar (v. 16). O pecado de Israel é também a imoralidade cotidiana; Ezequiel a descreve inspirando-se nos formulários de confissão dos pecados, em uso nos santuários (18:5-9; 22:3-12.23-30)
            Ezequiel diz e repete que esse pecado é um horror, uma abominação (5:9-11; 6:9; 16:22-52); é um gesto de infidelidade, um adultério, um ato de prostituição. O profeta desenvolva este tema na alegoria da menina encontrada, adotada e depois desposada, que finalmente se transforma em “prostitua despótica” (16:30); ele o retoma depois na história das duas irmãs, Oholá (Samaria) e Oholibá (Jerusalém), esposa infiéis que se entregaram a uma insolente prostituição (Cap. 23)
            O profeta finalmente chega a descobrir a raiz da impudica infidelidade, à qual Jerusalém se abandona no orgulho. O pecado dos pagãos de Sodoma (16:49-50), do rei de Tiro (28:2.5.17), do Egito (30:6.18) e de seus faraós (32:12; 35:13) é também o pecado de Israel (7:20.24; 33:28), esposa envaidecida com sua beleza (16:15.56); é também o pecado do príncipe (21:30-31).
            Porventura, Jerusalém não tem uma origem pagã, ela que descende de pai emorita e de mãe hitita? (16:3.45) Sua corrupção, que se manifesta ao longo de toda a sua história (cap.20), é congênita (cap.16), e a permanência prolongada de Israel-Jacó no Egito – onde Deus com a mão erguida, jurou, e disse: Eu sou o Senhor vosso Deus (20:5) – devia ter as mais funestas conseqüências: ele daria a Israel essa paixão pelos ídolos  à qual depois ninguém saberia renunciar (Cap. 20).
            É em meio a esse povo que Ezequiel é estabelecido profeta, com a missão de proclamar a palavra de Deus. Ainda que esta palavra penetre nele como um alimento e o encha de doçura (3:2.3), o filho de Buzi deve esperar encontrar em seu caminho sofrimentos e espinhos toda vez que ele clamar: Assim fala o Senhor Deus (3:11); mas não deve desistir, pois o essencial é, no fim das contas, que os deportados, por mais rebeldes que sejam, saibam que há um profeta no meio deles (2:5).
            Ezequiel será uma “sentinela a serviço de Israel”. Deverá dizer ao perverso: “vais morrer”, a fim de que o mal abandone a sua má conduta e viva; deverá admoestar o justo para que não peque, a fim de permanecer em vida (3:16-21); pois, ao contrário do adágio que se costuma repetir em Israel, ele afirma: Quem pecar, esse morrerá; o filho não arcará com a iniqüidade do pai, nem o pai com a iniqüidade do filho (18:4-20).
            Todavia, se Ezequiel deixar de admoestar o malvado, terá de prestar contas do sangue do mau que houver perecido por falta de admoestação oportuna (3:18). Esta hipótese não é gratuita: nessa época, não faltavam pretensos profetas, que seguiam sua própria inspiração sem jamais ter tido visão. São semelhantes a pedreiros que se contentam com rebocar um muro rachado, com risco de deixar ruir todo o conjunto. Tais são os profetas que publicam uma mensagem de paz sem se preocupar em curar o pecado (Cap. 13).
            A queda de Jerusalém: O pecado não pode deixar de conduzir o povo a um julgamento inelutável; o profeta vê sua realização bem próxima e se obstina a anunciá-lo incansavelmente, por palavras (Caps. 7:9-11) e atos (Caps. 4-5). Até aquela triste manhã, em que alguém se apresenta para lhe declarar a desgraça que aconteceu: Jerusalém foi tomada, destruída, incendiada; os sobreviventes partem para o exílio.
            Foi este o segundo acontecimento capital na vida de Ezequiel. Instigado a não deixar transparecer seu pesar (24:15-27), deve ter sentido uma dor pelo menos igual à de seus companheiros de deportação. Com efeito, o sofrimento e o desespero deles foram tais que chegaram a dizer: estão sobre nós as nossas revoltas e os nossos pecados, e apodrecemos por causa deles! Como poderemos viver? (33:10) ou ainda: os nossos ossos estão ressequidos, pereceu a nossa esperança, estamos esfacelados (37:11).
            Então Ezequiel reagiu; pôs-se a anunciar o castigo para as nações cujos sarcasmos intensificaram a dor dos vencidos. Israel não será o único a sofrer o julgamento. Sem dúvida, o profeta outrora entreviu que povos de fala impenetrável e de língua enrolada (3:6) o teriam escutado melhor do que a casa de Israel; contudo, esses povos agora são convocados ao tribunal de Deus (Caps. 25-32). O Egito é o principal acusado (Caps. 29-32), ele que provocou a traição de Sedacias (17:15), infiel às suas alianças (17:19). Tiro deve comparecer por ter tido intenções injuriosas contra Jerusalém, oprimida pelos exércitos inimigos (26:2), e também depois os países vizinhos da Palestina: Amon, Moab, Edom e os filisteus, todos culpáveis de comportamento odioso com relação ao povo aniquilado (Cap. 25).
            Mas eis que o profeta, arauto trágico, reduzido até aqui ao anúncio de uma desgraça inelutável, transforma-se em pregador de salvação. Já os seus oráculos anteriores não haviam excluído todo motivo de conforto. O tema do “resto” aparece em algumas passagens; sua evocação é rápida, tão rápida, aliás, que se pode ver aí o resultado de algum acréscimo secundário; assim (Cap. 5:1-2) são explicados nos vv. 12 e 13, ao passo que (Cap. 5:3-4), que, ademais, comprometem a lógica do cálculo profético, não recebem nenhum comentário. Contudo, o tema é claramente atestado no (Cap. 9); aí vem à tona a execução dos habitantes de Jerusalém, precedida por um gesto de seleção que põe à parte os homens que gemem e se lamentam por causa de todas as abominações que se cometem em Jerusalém (9:4).
            Haverá, portanto um “resto” (6:8-10; 9:4-8; 11:13; 12:16; 14:22.23), mas tão irrisório, tão frágil (11:13), reduzido talvez aos cadáveres amontoados em Jerusalém (11:7), que sua evocação não pode impedir os exilados de perder sua débil esperança. Então o profeta, sentinela atenta, se posta na brecha. Os mortos viverão, proclama o profeta; e aí temos o maravilhoso afresco dos ossos ressequidos e revigorados (37:1-14): por mais diminuído e aniquilado que esteja Israel, ainda que fosse semelhante a um amontoado de ossos abandonado pela vida, o Senhor saberá fazê-lo reviver ao sopro impetuoso do seu Espírito.
            Um povo que volta à vida, mas a uma vida totalmente diferente da anterior, tal será o Israel resgatado do exílio. Porque, diz o Senhor: Eu vos tomarei de entre as nações, vos reunirei de todas as terras e vos levarei ao vosso solo. Farei sobre vós uma aspersão de água pura e ficareis puros: Eu vos purificarei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo; tirarei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Infundirei em vós o meu Espírito e vos farei caminhar segundo as minhas leis, guardar e praticar os meus costumes. Habitareis a terra que dei a vossos pais; sereis para mim um povo, e eu serei para vós Deus (36:24-28).
            Essa vida ideal se realizará num reino reunificado (37:15-28), onde o povo não será mais entregue às prevaricações dos chefes indignos (34:1-10); ele será guiado pelo cajado do Senhor, tornando-se ele mesmo o pastor de seu povo (34:11-16); quanto ao descendente de Davi, ele será simplesmente um príncipe no meio deles (34:24).

ANÁLISE DE ALGUNS TEXTOS
            Capítulo 1: “A visão da Glória”.
            A indicação fornecida pelo v.2, que se refere ao quinto ano do rei Joaquim, torna esse dado cronológico incompreensível. Muitas soluções foram tentadas, mas nenhuma delas conseguiu impor-se. O número 30 poderia ser o resultado de alguma corruptela textual; de todo modo, é provável que a data do acontecimento tenha sido modificada para que o livro começasse solenemente por esta majestosa visão, que apresenta uma espécie de síntese  imaginosa do ensinamento de Ezequiel.
            Quanto ao local “às margens do rio Kebar” deve-se tratar do canal lateral ao Eufrates, que vai de Babilônia a Warka.
            Nas outras visões da Glória, é o templo, essa casa terrestre, que serve de quadro para o encontro do Senhor. Agora é no céu que a visão aparece a Ezequiel, visto que ele se encontra em terra babilônica. Essas indicações topográficas dão todo o sentido da mensagem ezequeliana; longe do santuário de Jerusalém, os deportados não estão a despeito do que se pensa (11:15), longe do Senhor; porque do alto do seu palácio celeste ele reina sobre toda a terra; portanto, está próximo de seu povo disperso entre as nações.
            Essas visões divinas já presente em Jeremias, onde é dotada de proporções modestas e sempre explicada pela palavra (Jr:1:11-15 etc.), a visão adquire em Ezequiel dimensões grandiosas (Ex: 37:1-14), a ponto de eliminar progressivamente o comentário oral (47:1-12). Mais vasta, mais complexa, dando maior espaço às sugestões imprecisas, mas muito mais ricas – da imaginação e do coração, a visão reflete melhor do que a palavra a sublime transcendência do mistério que Deus deixa apenas entrever e que permanece radicalmente inefável.
            Esta descrição dos seres vivos no (v.5) – expressão bíblica para animais – é influenciada pelas imagens murais, pelos motivos decorativos, pelas esculturas que o profeta pôde ver, seja na Palestina (como os marfins representando animais fantásticos, com corpo de leão, cabeça de cordeiro ou de homem, asas de águia, encontrados na costa mediterrânea), seja, sobretudo em terra de exílio. A descoberta, na Mesopotâmia, de estátuas de personagens divinas dotadas de quatro rostos torna menos surpreendente à visão de Ezequiel.
            No (v.10), Ezequiel viu na terra de sua deportação, diante dos templos, estátuas de animais – leões, touros, garantindo-lhes a guarda e mostrando sua dignidade.  É esse mesmo bestiário símbolo mítico de todas as forças do universo, que ele se apraz em entrever em torno do Senhor, proclamando a sua sublime grandeza.
             (v.12) Ezequiel diz aqui, como no (v.20), “o espírito”; em outro lugar (2:2), ele diz um espírito; não é certo que ele queria sublinhar matizes diferentes com formulações variadas.
            No (v.15) Ezequiel diz que viu ao lado dos seres vivos uma roda, descrição semelhante a (10:9-13). Existem nos santuários antigos carroças utilizadas para diversos fins: transporte das vítimas, lavagem das oferendas, etc. Um deles, encontrado em Chipre, comporta um chassi, montado sobre quatro rodas, em superestruturas feitas com um quadro decorado com animais fantásticos. O estranho carro esboçado por Ezequiel tem analogias com esse objeto.
            (v.28) Com seus predecessores, Ezequiel designa por Glória o Ser Divino enquanto se revela; é a manifestação do poder, da santidade (cf. 28:22, onde os dois temas são postos em paralelo) de Deus, perceptíveis através dos sinais: fenômenos cósmicos (tormenta 1:4), desenrolar histórico (28:22), símbolos litúrgicos (8-11; 43; 44). Contudo a representação ezequielana apresenta certas particularidades: a Glória tornou-se imediatamente visível, pelo menos aos olhos do profeta, numa explosão de luz; além disso, ela tem uma aparência bastante semelhante á forma humana; por fim, aparece como realidade autônoma, quase hipostasiada: sai do templo, se posta acima da colina próxima, retorna ao santuário. Por outro lado, Ezequiel busca suavizar a novidade e a audácia de tais expressões por fórmulas de aproximação: “a semelhança de” etc. Mas ele busca aproximar os dados dificilmente conciliáveis que são: o sentido da transcendência e a afirmação da proximidade de Deus; a convicção da presença divina no santuário e a certeza de que a Glória não pode ser atingida pela iminente ruína da Jerusalém infiel.

            Capítulo 37: “a visão das ossadas”.
                  O capítulo 37 de Ezequiel é introduzido com a afirmação de que "a mão de Javé pousou sobre mim e o espírito de Javé me levou e me deixou num vale cheio de ossos". 
            A fórmula "a mão de Javé pousou sobre mim" aparece sete vezes em Ezequiel e sempre serve para introduzir um novo oráculo ou novo capítulo.
            Este texto é um dos mais célebres de Ezequiel, respondendo aos problemas e situação do povo, num tom de esperança e consolação. É muito rico no que se refere ao sopro, ao espírito = rûah. É o sopro de vida, o hálito, é ele quem faz viver os ossos secos. Além disso, a profecia diz que ele "vem dos quatro ventos", ou seja, o sopro deve vir de toda parte. É o espírito que age no profeta para inaugurar a ação e a palavra profética, e nos israelitas para instalá-los em seu país.
            Esse vale do v.1 trata-se provavelmente do vale onde o profeta teve uma visão (cf. 3:22).
            No v.2 Deus faz o profeta circular no meio de ossos ressequidos, essas ossadas acumuladas no solo do vale são um sinal de desgraça particular, porque, no pensamento hebraico, era preciso ser enterrado com os pais no túmulo da família. (Isaac, Gn-35:29) (Jacó, Gn50:5) etc.
            No v.5 nos originais estão assim: “Farei vir sobre vós um sopro para que vivais”. Ou seja, a respiração. Pode-se também traduzir sopro por espírito; mas aqui, ao contrário de (36:26-27), a visão está mais centrada na idéia da vida que na do dom do Espírito.
            O v.11 nos mostra os israelitas exilados, abatidos, cuja esperança está morta, estando eles mesmos de certa forma mortos, Ezequiel anuncia a vida. No próprio seio do desespero e da morte, o Espírito de Deus, cuja palavra profética vai suscitar a vida, fará jorrar um reinício cujo anúncio deva devolver a esperança aos deportados (cf. Is-40:1-2; 54:7; Ez-28:25). Os israelitas andavam dizendo: 'Nossos ossos estão secos e nossa esperança se foi. Para nós tudo acabou'. “Pois bem, profetize e diga: ‘Vou abrir seus túmulos, tirar vocês de seus túmulos, povo meu, e vou levá-los para a terra de Israel.”
            Os ossos são o povo de Israel que lamenta: “os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita, está tudo acabado”.
                   O futuro para Israel só pode ser entendido pela categoria de vida a partir da morte. A visão dos ossos ressequidos expressa a promessa incondicional de Deus para o futuro.
            O v.16a O profeta fala sobre a divisão do reino de Salomão em dois, (cf. 1Rs-12).
            No v.16b José, pai de Efraim (Gn-51:52), representa como seu filho as tribos do reino separado do norte, ao passo que Judá representa o reino hierosolimitano. Ezequiel anuncia o fim da separação em dois grupos opostos de tribos (cf. Is-11:13; Jr-3:18).
            Esse relato do v.23 em antigas versões dizem: “Eu os livrarei de todas as suas apostasias ou de todas as suas abominações”.
            O v.24 nos mostra um pastor único como em (34:23). Da mesma forma que Israel tem um só Deus, assim haverá um único pastor (cf. Jr-23:4-5; Jo-10:16), porque ele se terá tornado um só povo (cf. 1Rs-12:20-33; Ez-37:15-28).
            No v.27b diz: “Eu os estabelecerei”. Está tradução é incerta. O texto parece mal transmitido. O aramaico diz: “eu os abençoarei”; mas a palavra está ausente no grago e no siríaco.
            Quanto ao santuário do v.24 Ezequiel pensa no povo do templo (caps. 40-44) que está no centro do país.

PERSPECTIVAS FINAIS
            No fim de sua carreira profética, Ezequiel se aplica a mostrar o caminho do Israel renovado. Inicialmente ele vê o povo conseguir, no fim dos anos (38:8), a vitória que o livra de todos os seus inimigos. O povo os enfrentou num combate colossal, reencontrando todos os seus adversários de todos os tempos, por trás da face belicosa de seu campeão, Gog, da terra de Magog, grande príncipe de Méshek e de Tubal. Ele os enfrenta e a todos destrói; com seus armamentos terrificantes ele faz um fogo de alegria; abandona inúmeros mortos deles à rapacidade dos abutres e ao cuidado dos coveiros, por sete meses interminavelmente ocupados em enterrar os corpos dos vencidos (caps. 38 e 39).
            Por fim, Ezequiel imagina Israel vitorioso já instalado numa palestina também renovada. Vê a terra matematicamente partilhada em zonas que limitam as fronteiras com absoluto rigor (cap. 47:48); ele a vê banhada com a água maravilhosa, que jorra do templo (Cap. 47). Será o lugar privilegiado onde, conforme todas as suas regras (Caps. 40 e 46) se desenvolverão os cultos que celebram a Glória do Senhor que voltou ao santuário (43:1-12). Pois, de agora em diante, o templo será o centro da vida do povo, o coração de um mistério que o profeta faz entrever em uma só expressão: “O Senhor está aí” (48:35).



  



[1] O autor é bacharelando em teologia pelo (ICEC) Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, convalidado pela faculdade Unida além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo Ide Missões.