Por
Mario Marcos[1]
(Is-6:8-9) "Depois disso, ouvi a voz
do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então, disse
eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo:
Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis."
O
LUGAR DOS PROFETAS NA HISTÓRIA DOS HEBREUS.
(1) Os profetas do AT
eram homens de Deus que, espiritualmente, achavam-se muito acima de seus
contemporâneos. Nenhuma categoria, em toda a literatura, apresenta um quadro
mais dramático do que os profetas do AT. Os sacerdotes, juízes, reis,
conselheiros e os salmistas, tinham cada um, lugar distintivo na história de
Israel, mas nenhum deles logrou alcançar a estatura dos profetas, nem chegou a
exercer tanta influência na história da redenção.
(2) Os profetas
exerceram considerável influência sobre a composição do AT. Tal fato fica
evidente na divisão tríplice da Bíblia hebraica: a Torá, os Profetas e os
Escritos (cf. Lc 24.44). A categoria dos profetas inclui seis livros
históricos, compostos sob a perspectiva profética: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel,
1 e 2 Reis. É provável que os autores desses livros fossem profetas. Em segundo
lugar, há dezessete livros proféticos específicos (Isaías até Malaquias). Finalmente,
Moisés, autor dos cinco primeiros livros da Bíblia (a Torá), era profeta (Dt
18.15). Sendo assim, dois terços do AT, no mínimo, foram escritos por profetas.
PALAVRAS
HEBRAICAS APLICADAS AOS PROFETAS.
(1) Ro’eh. Este
substantivo, traduzido por "vidente", em português, indica a
capacidade especial de se ver na dimensão espiritual e prever eventos futuros.
O título sugere que o profeta não era enganado pela aparência das coisas, mas
que as via conforme realmente eram — da perspectiva do próprio Deus. Como
vidente, o profeta recebia sonhos, visões e revelações, da parte de Deus, que o
capacitava a transmitir suas realidades ao povo.
Etimologia
da palavra profeta
Nabi’= profeta. Na
acadico tem um verbo que se chama nabû, aquele que tem uma mensagem, no hebraico
quer dizer falar sob inspiração profética.
Dabar= palavra, e isto
está intimamente ligado com o profeta. E também está ligada ao Gênesis, palavra
criadora, Davar+Deus=criação. A palavra javé não tem etimologia, mas está
ligada a ser, “EU SOU”, ou acontece, isto é, javé é o que faz acontecer.
Ruach= espírito, Ar em
movimento, é o que faz dabar, palavra acontecer. Dabar tem um peso masculino e
Ruach feminino.
Sabedoria, instrução,
que leva para a felicidade e o amor. (Is-50:4) “Javé me da língua instruída para que soubesse trazer ao cansado uma
palavra de consolo de manhã em manhã ele me desperta para que eu ouça...” A
palavra instruída no hebraico é “limmud” que quer dizer: acostumado, ensinado,
aluno, discípulo. Tudo isso está ligado à humildade, isto é, o profeta gosta de
aprender, está totalmente dependente desta palavra. Para o profeta humildade é
não tomar o espaço de Deus, é deixar Deus acontecer. Consolo no texto quer
dizer “Libertação”. Como o consolo se torna eficaz? O consolo que quer dizer “está
com o que está só” só se concretiza ou se torna eficaz quando você alivia de
maneira real a necessidade do outro. Na bíblia os profetas eram conhecidos como
videntes e homens de Deus e mulheres de Deus, iluminados. No tempo da monarquia
também tinham profetas servindo a coorte, mas só beneficiavam a coorte. A
crítica ao culto é olho da profecia, não o templo em si, mas o que faziam dele.
(2) Nabi’. (a) Esta é a
principal palavra hebraica para "profeta", e ocorre 316 vezes no AT.
Nabi’im é sua forma no plural. Embora a origem da palavra não seja clara, o
significado do verbo hebraico "profetizar" é: "emitir palavras
abundantemente da parte de Deus, por meio do Espírito de Deus" (Gesenius,
Hebrew Lexicon). Sendo assim, o nabi’ era o porta-voz que emitia palavras sob o
poder impulsionador do Espírito de Deus. A palavra grega prophetes, da qual se
deriva a palavra "profeta" em português, significa "aquele que
fala em lugar de outrem". Os profetas falavam, em lugar de Deus, ao povo
do concerto, baseados naquilo que ouviam, viam e recebiam da parte dEle. (b) No
AT, o profeta também era conhecido como "homem de Deus" (ver 2Rs 4.21
nota), "servo de Deus" (cf. Is 20.3; Dn 6.20), homem que tem o
Espírito de Deus sobre si (cf. Is 61.1-3), "atalaia" (Ez 3.17), e
"mensageiro do Senhor" (Ag 1.13). Os profetas também interpretavam
sonhos (e.g., José, Daniel) e interpretavam a história — presente e futura —
sob a perspectiva divina.
HOMENS DO ESPÍRITO E DA PALAVRA. O profeta não
era simplesmente um líder religioso, mas alguém possuído pelo Espírito de Deus
(Ez 37:1-4). Pelo fato do Espírito e a Palavra estarem nele, o profeta do AT
possuía estas três características:
(1) Conhecimentos
divinamente revelados. Ele recebia conhecimentos da parte de Deus no tocante às
pessoas, aos eventos e à verdade redentora. O propósito primacial de tais
conhecimentos era encorajar o povo a permanecer fiel a Deus e ao seu concerto.
A característica distintiva da profecia, no AT, era tornar clara a vontade de
Deus ao povo mediante a instrução, a correção e a advertência. O Senhor usava
os profetas para pronunciarem o seu juízo antes de este ser desferido. Do solo
da história sombria de Israel e de Judá, brotaram profecias específicas a
respeito do Messias e do reino de Deus, bem como predições sobre os eventos
mundiais que ainda estão por ocorrer.
(2) Poderes divinamente
outorgados. Os profetas eram levados à esfera dos milagres à medida que
recebiam a plenitude do Espírito de Deus. Através dos profetas, a vida e o
poder divinos eram demonstrados de modo sobrenatural diante de um mundo que,
doutra forma, se fecharia à dimensão divina.
(3) Estilo de vida
característico. Os profetas, na sua maioria, abandonaram as atividades
corriqueiras da vida a fim de viverem exclusivamente para Deus. Protestavam
intensamente contra a idolatria, a imoralidade e iniqüidades cometidas pelo
povo, bem como a corrupção praticada pelos reis e sacerdotes. Suas atividades
visavam mudanças santas e justas em Israel. Suas investidas eram sempre em
favor do reino de Deus e de sua justiça. Lutavam pelo cumprimento da vontade
divina, sem levar em conta os riscos pessoais.
OITO
CARACTERÍSTICAS DO PROFETA DO ANTIGO TESTAMENTO. Que
tipo de pessoa era o profeta do AT?
(1) Era alguém que
tinha estreito relacionamento com Deus, e que se tornava confidente do Senhor
(Am 3.7). O profeta via o mundo e o povo do concerto sob a perspectiva divina,
e não segundo o ponto de vista humano.
(2) O profeta, por
estar próximo de Deus, achava-se em harmonia com Deus, e em simpatia com aquilo
que Ele sofria por causa dos pecados do povo. Compreendia, melhor que qualquer
outra pessoa, o propósito, vontade e desejos de Deus. Experimentava as mesmas
reações de Deus. Noutras palavras, o profeta não somente ouvia a voz de Deus,
como também sentia o seu coração (Jr 6.11; 15.16,17; 20.9).
(3) À semelhança de
Deus, o profeta amava profundamente o povo. Quando o povo sofria, o profeta
sentia profundas dores (ver O LIVRO DAS LAMENTAÇÕES). Ele almejava para Israel
o melhor da parte de Deus (Ez 18.23). Por isso, suas mensagens continham, não
somente advertências, como também palavras de esperança e consolo.
(4) O profeta buscava o
sumo bem do povo, i.e., total confiança em Deus e lealdade a Ele; eis porque
advertia contra a confiança na sabedoria, riqueza e poder humanos, e nos falsos
deuses (Jr 8.9,10; Os 10.13,14; Am 6.8). Os profetas continuamente conclamavam
o povo a viver à altura de suas obrigações conforme o seu concerto estabelecido
com Deus, para que viesse a receber as bênçãos da redenção.
(5) O profeta tinha
profunda sensibilidade diante do pecado e do mal (Jr 2.12,13, 19; 25.3-7; Am
8.4-7; Mq 3.8). Não tolerava a crueldade, a imoralidade e a injustiça. O que o
povo considerava leve desvio da Lei de Deus, o profeta interpretava, às vezes,
como funesto. Não podia suportar transigência com o mal, complacência,
fingimento e desculpas do povo (32.11; Jr 6.20; 7.8-15; Am 4.1; 6.1).
Compartilhava, mais que qualquer outra pessoa, do amor divino à retidão, e do
ódio que o Senhor tem à iniqüidade (cf. Hb 1.9 nota).
(6) O profeta desafiava
constantemente a santidade superficial e oca do povo, procurando
desesperadamente encorajar a obediência sincera às palavras que Deus revelara
na Lei. Permanecia totalmente dedicado ao Senhor; fugia da transigência com o
mal e requeria fidelidade integral a Deus. Aceitava nada menos que a plenitude
do reino de Deus e a sua justiça, manifestadas no povo de Deus.
(7) O profeta tinha uma
visão do futuro, revelada em condenação e destruição (e.g., 63.1-6; Jr
11.22,23; 13.15-21; Ez 14.12-21; Am 5.16-20,27, bem como em restauração e
renovação (e.g., 61– 62; 65.17–66.24; Jr 33; Ez 37). Os profetas enunciaram
grande número de profecias acerca da vinda do Messias (ver o diagrama das
PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO CUMPRIDAS EM CRISTO).
(8) Finalmente, o
profeta era, via de regra, um homem solitário e triste (Jr 14.17,18; 20.14-18;
Am 7.10-13; Jn 3– 4), perseguido pelos falsos profetas que prediziam paz,
prosperidade e segurança para o povo que se achava em pecado diante de Deus (Jr
15.15; 20.1-6; 26.8-11; Am 5.10; cf. Mt 23.29-36; At 7.51-53). Ao mesmo tempo,
o profeta verdadeiro era reconhecido como homem de Deus, não havendo, pois,
como ignorar o seu caráter e a sua mensagem.
A
MENSAGEM DOS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO. A mensagem dos
profetas enfatiza três temas principais:
(1) A natureza de Deus. (a) Declaravam ser
Deus o Criador e Soberano onipotente do universo (e.g., 40.28), e o Senhor da
história, pois leva os eventos a servirem aos seus supremos propósitos de
salvação e juízo (cf. Is 44.28; 45.1; Am 5.27; Hc 1.6). (b) Enfatizavam que
Deus é santo reto e justo, e não pode tolerar o pecado, iniqüidade e injustiça.
Mas a sua santidade é temperada pela misericórdia. Ele é paciente e tardio em
manifestar a sua ira. Sendo Deus santo, em sua natureza, requer que seu povo
seja consagrado e santo ao SENHOR (Zc 14.20; cf. Is 29.22-24; Jr 2.3). Como o
Deus que faz concerto, que entrou num relacionamento exclusivo com Israel,
requer que seu povo obedeça aos seus mandamentos, como parte de um compromisso
de relacionamento mútuo.
(2) O pecado e o arrependimento. Os
profetas do AT compartilhavam da tristeza de Deus diante da contínua
desobediência, infidelidade, idolatria e imoralidade de seu povo segundo o
concerto. E falavam palavras severas de justo juízo contra os transgressores. A
mensagem dos profetas era idêntica a de João Batista e de Cristo:
"arrependei-vos, senão igualmente perecereis". Prediziam juízos
catastróficos, tal como a destruição de Samaria, pela Assíria (e.g. Os 5.8-12;
9.3-7; 10.6-15), e a de Jerusalém por babilônia (e.g., Jr 19.7-15; 32.28-36; Ez
5.5-12; 21.2, 24-27).
(3) Predição e esperança messiânica. (a)
Embora o povo tenha sido globalmente infiel a Deus e aos seus votos, segundo o
concerto, os profetas jamais deixaram de enunciar-lhe mensagens de esperança.
Sabiam que Deus cumpriria os ditames do concerto e as promessas feitas a Abraão
através de um remanescente fiel (ver o estudo O CONCERTO DE DEUS COM ABRAÃO,
ISAQUE E JACO). No fim, viria o Messias, e através dEle, Deus haveria de
ofertar a salvação a todos os povos. (b) Os profetas colocavam-se entre o
colapso espiritual de sua geração e a esperança da era messiânica. Eles tinham
de falar a palavra de Deus a um povo obstinado, que, inexoravelmente rejeitavam
a sua mensagem (cf. Is 6.9-13). Os profetas eram tanto defensores do antigo
concerto, quanto precursores do novo. Viviam no presente, mas com a alma
voltada para o futuro.
[1]
Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto
Cristão de Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509. Convalidação Faculdade Unida.
Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo
IDE Missões.
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