Estudo
do Salmo 19
Por
Mário
Marcos[1]
1.
Tipo de Salmo
O Salmo 19
mistura dois tipos, e isso levou muita gente a dividi-lo em dois. De fato, de 1
a 6 temos um hino de louvor, sem nenhuma introdução. Nele o céu e o firmamento,
o dia e noite, em silêncio, cantam os louvores
de quem os criou. É, portanto, um hino de louvor ao Deus criador. Mas na
segunda parte de 7 a 14 o estilo é sapiencial, apresentando uma reflexão sobre
a lei de Javé.
2.
Como está organizado
O que dissemos
até agora ajuda a ver como a Salmo 19 está organizado. Tem duas partes, de
estilo diferentes: v.1-6 e v.7-14. Na primeira parte (1-6) temos um solene
louvor ao Criador do universo: o céu, o firmamento, dia, noite e, sobretudo, o
sol, proclamam sem palavras, os louvores de que os fez. O louvor silencioso é o
mais importante, pois demonstra que as palavras não conseguem exprimir tudo o
que se sente. O sol é comparado como o esposo que sai do quarto, como guerreiro
e como atleta que percorre o caminho que lhe foi traçado.
Na segunda parte (7-14) encontramos um poema sapiencial
cujo tema central é a lei de Javé, também chamada de "testemunho"
(7b), "preceitos" (8a), "mandamento" (8b),
"temor" (9a), e "decisões". São seis palavras para dizer
basicamente a mesma coisa. Ao lado de cada uma dessas palavras repete-se sempre
o nome "Javé" (nesta segunda parte este nome aparece 7 vezes) e um
adjetivo: "perfeita", "firme", "retos",
"transparente", "puro", "verdadeiras". Depois de
cada uma dessas afirmações apresenta-se um beneficiado: a alma descansa (7a), e
o ignorante se instrui (7b), o coração se alegra (8a), os olhos se iluminam (8b).
Tudo isso resumido com duas comparações: a lei é melhor que o ouro mais puro
(ou seja, é o que há de mais precioso) e é mais doce que o mel (tido como o que
há de mais doce). Em outras palavras o poema afirma que a lei é o que há de mais
precioso e mais doce (10).
Esta segunda parte pode ainda ser subdividida. Após ter
apresentado o elogio da lei perfeita, o que há de mais precioso e doce, o
salmista olha para si próprio, imperfeito, impuro, orgulhoso e pecador (11-13),
terminando com um desejo: que as palavras do salmo, em forma de meditação,
agradem a Javé, sua rocha e redentor (14).
3.
Por que surgiu
A primeira parte
(1-6) do salmo apresenta uma tensão. De fato, quase todos os povos vizinhos a
Israel consideravam o sol e os astros como deuses. Para o salmista, o céu e o
firmamento são como uma grande tela na qual Deus deixou impressos sinais de seu
amor criador. Em silêncio as criaturas falam da grandeza de quem os fez. O dia
de hoje entrega ao dia de amanhã uma senha; esta noite entrega à próxima noite
a mesma senha; serem anunciadores silenciosos do amor do Criador. Mesmo não
usando palavras, a mensagem silenciosa deles chegará aos confins do mundo. Cada
dia e cada noite trazem sempre o mesmo anuncio.
O sol não é Deus,
mas sua criatura. Naquele tempo pensava-se que ele girasse ao redor da terra.
Por isso supunha-se que, de manhã, da tenda invisível que Deus fez para ele no
Oriente, percorrendo como esposo, herói e atleta seu percurso, até entrar de
novo em sua tenda no Ocidente. Esposo porque é sinônimo de fecundidade, herói
porque ninguém escapa ao seu calor, atleta porque ninguém o pode deter.
A segunda parte (7-14) também esconde uma tensão com as
"nações". De fato, para Israel a grande e insuperável comunicação de
Deus se chama "Lei". Foi com ela que deixou bem claro seu projeto e
as condições para que Israel fosse seu aliado. O que Israel tem para oferecer
as nações? Uma lei perfeita e justa, fruto da aliança com um Deus muito próximo:
"De fato, que grande nação tem um Deus tão próximo como Javé nosso Deus,
todas as vezes que o invocamos? Que grande nação te estatutos e normas tão
justas como toda esta e lei que lhes proponho hoje?" (Dt-4:7-8).
Depois de falar da perfeição da lei, o salmista pensa na
própria fragilidade (11-14). A lei é perfeita, ele é imperfeito. A lei é pura
como ouro purificado, mas ele precisa ser purificado das faltas que cometeu sem
perceber. problema maior: o orgulho ou a arrogância, que domina a pessoa,
tornando-a responsável de grandes transgressões.
4.
O rosto de Deus
Duas imagens de Deus são muito fortes neste salmo: O Deus
da Aliança (7-14), que entrega alei a seu povo, e o Deus Criador, reconhecido
como tal por suas criaturas em todo o mundo (1-6).
O Novo Testamento viu em Jesus o cumprimento perfeito da
nova Aliança, aquele que faz ver de forma perfeita o pai (Jo-1:18 e 14:9). Sua
lei é o amor (Jo-13:34). Jesus louva o Pai por ter revelado seu projeto aos
pequeninos (Mt-11:25) e mandou a prender com os lírios do campo e as aves do
céu o amor que o Pai tem por nós (Mt-6:25-30).
5.
Aplicação pessoal
A primeira parte do salmo nos ajuda a aprender a partir da
criação, contemplar em silêncio as mensagens que vem das criaturas. Com isso
aprendo que devo anunciar meu Deus e seu amor mesmo em silêncio, ou seja, minha
vida deve ser um testemunho sem que seja necessário palavras para isso. É um
salmo ecológico e cósmico. A segunda parte nos faz entrar em comunhão com
projeto de Deus presente na Bíblia, com o mandamento do amor. Faz pensar em
nossa fragilidade. É oportuno para quando queremos livrar-nos da arrogância e
do orgulho.
[1] Mario
Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de
Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509.Convalidado pela Faculdade Unida, Além de
especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE
Missões.