Apresentei este trabalho no primeiro semestre do curso de teologia Pelo ICEC, nele tento apresentar um Jesus mais humano e não aquele super homem que sai voando pelo céu juntamente com satanás. Tento desmistificar e desconstruir algumas idéias que foram erroneamente introduzidas nas escolas bíblicas e cursos fundamentalistas.
É uma exegese acadêmica, porém de uma linguagem cândida, espero que gostem e comentem, boa leitura.
INSTITUTO
CRISTÃO DE ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS
Evangelhos
Sinóticos
Professor:
Anderson de Oliveira Lima
EXEGESE
DE MATEUS 4:1-11
A
TENTAÇÃO DE JESUS
VIAGENS ATRAVÉS DO ÊXTASE
Por
Mario
Marcos Andrade da Silva
Matrícula
10.1.509
São
Paulo
Junho/2010
A
tentação de Jesus (Mt-4:1-11)
Perícope:
A narrativa da tentação de Jesus no Evangelho de Mateus fica estabelecida no
capítulo 4 dos versículos 1-11, pois no capítulo 3 e versículo 17 termina a
narrativa do seu batismo, e no capítulo 4 versículo 12 se inicia com Jesus
voltando para a Galiléia, após a prisão de João Batista.
Traduções:
RC (para estudo do texto)
NVI (para comparar os
textos)
Para
o estudo final do texto e exposição do mesmo, usei o novo testamento interlinear, por ser mais fiel aos textos gregos.
Equivalente sinótico: o texto o qual é
o objeto de estudo se encontra nos três evangelhos sinóticos, sendo que Marcos
é muito breve, pois dedica apenas dois versículos (Mc-1:12-13) e não especifica
as três tentações relatadas por Mateus e Lucas. Para Mateus e Lucas, Jesus
cumpriu sua missão mediante uma luta contínua contra “satanás” chamado “diabo”
acrescentando as três tentações provavelmente tiradas da fonte “Q”.
A
maior diferença encontrada no texto de Mateus com relação a Lucas: é a troca da
segunda pela terceira tentação. Mateus espiritualiza o texto mais do que Lucas,
tirando Jesus do deserto e o colocando no pináculo do templo que é um ambiente
religioso.
Texto
(Mt-4:1-11)
A
tentação de Jesus
1 Então Jesus foi
levado para o deserto por o Espírito para ser tentado por o diabo. 2 E tendo jejuado quarenta dias e
quarenta noites, ao final teve fome. 3
E aproximando-se o tentador disse a ele: Se és filho de Deus, dize para que
estas pedras se tornem pães . 4 Mas
ele respondendo disse: Está escrito: Não de pão somente viverá o ser humano,
mas de toda palavra saindo por (a) boca de Deus. 5 Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a
ele sobre o pináculo do templo, 6 e
diz a ele: Se és filho de Deus , joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos
anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que
não batas contra pedra o teu pé. 7
Disse a ele Jesus: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. 8 De novo toma o diabo consigo a ele
para um monte muito alto e mostra a ele todos os reinos do mundo e a glória
deles. 9 e disse a ele: Estas coisas
todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim. 10 Então diz a ele Jesus: Vai embora, satanás; Pois escrito está:
(O) Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto. 11 Então deixa a ele o diabo, e eis anjos se aproximaram e serviam
a ele.
EXEGESE
1- Então Jesus foi levado:
[1] A expressão ser levado
define um fenômeno transcendental, levado em espírito ou transportado em
espírito, o verbo está sempre no passivo, indicando uma ação que vem de fora. A
palavra “espírito” está relacionada a experiência espiritual, esta experiência
é entendida simbolicamente como abandono do corpo por parte do espírito, nesse
abandono, o visionário é transportado para fora da realidade humana, também
como o seu corpo. Vejamos alguns exemplos: (Ez-37:1-2)
Veio sobre mim a mão do Senhor; e o Senhor me levou em espírito, e me pôs no
meio de um vale que estava cheio de
ossos, e me fez andar ao redor deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face
do vale e estavam sequíssimos.
(Ap-1:10-11) Eu fui arrebatado em espírito, no dia do
Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro e
envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e
a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.
Em
ambas as visões os visionários estão envolvidos tanto com o seu espírito quanto
com o seu corpo, Ezequiel caminha sobre um vale de ossos e cita detalhes de sua
visão “os ossos eram mui numerosos e estavam sequíssimos” ele fala, vê e ouve.
João ouve uma voz e recebe ordens para aquilo que ele ver, ele escrever.
A
experiência de Jesus è real, enquanto seu espírito é levado para fora do seu
corpo; Jesus experimenta a visão sendo levado em espírito, que como já vimos
tem a ver com a dimensão espiritual de sua pessoa, mas Jesus é levado
corporalmente por satanás, contempla todos os reinos do mundo, é levado
corporalmente para Jerusalém, sendo colocado no ponto mais alto do templo. Não
se trata somente de uma visão espiritual (levado em espírito), pois o corpo de
Jesus está totalmente envolvido em seus sentidos: Tem fome, vê, fala, ouve e é
transportado pra lá e para cá e trava uma batalha verdadeira com satanás. A
impressão que se tem é a de uma experiência mística tão profunda e completa que
até o corpo do visionário, e não apenas seu espírito, é envolvido. As duas
dimensões, o êxtase espiritual (arrebatamento íntimo, admiração de coisas
sobrenaturais) e transporte corporal, são elementos típicos da literatura
apocalíptica, cujo caráter de revelação se dá geralmente pelo êxtase que
possibilita a visão e o acesso às “coisas divinas”. É mais um elemento que
confirma nossa intuição de considerar (Mt-4:1-11)
como um relato de experiência visionária e extática (posto em êxtase).
A
experiência de Jesus é espiritual, por seu espírito está sendo levado e real
quanto aos lugares que está indo, não que os lugares sejam físicos, são reais
por serem locais existentes.
Esta
experiência de viagem espiritual é profunda, complexa e de difícil compreensão,
que até quem experimentou não sabe definir direito, vejamos o que o apóstolo
Paulo escreveu em (2Co-12:1-4) Em verdade que não convém gloriar-me; mas
passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que, há
catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe),
foi arrebatado até ao terceiro céu. E
sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e
ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.
2- Para o deserto:
Agora
precisamos analisar alguns fatos; a tentação de Jesus se dá logo depois do seu
batismo, no evangelho de Marcos (1:9)
diz que Jesus indo de Nazaré da Galiléia. Foi batizado por João no rio Jordão,
e o evangelho de João identifica esta região em que João batizava, sendo em
Betânia (Jo-1:28) essas coisas
aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão onde João estava batizando.
Betânia,
que quer dizer “casa dos pobres” uma aldeia na vertente oriental do monte das
oliveiras, cerca de 2.700 m. quase 3 km. a oeste de Jerusalém, na estrada que
liga Jerusalém a Jericó. Era em Betânia que se situava a casa dos irmãos,
Lázaro, Marta e Maria. Na maioria das vezes que Jesus esteve naquela região
hospedava-se na casa deles. (Mt-21:17), (Mc-11:1,11,12), (Lc-10:38), (Jo-11:1).
Por
estas referências e pelo contexto de que Jesus estava naquela região, acredito
que depois do seu batismo Jesus foi para casa dos seus três amigos, se isolando
em algum lugar da casa, ficando em jejum por quarenta dias, Jesus absteve-se de
alimento, mas não de água. Abster-se de água por quarenta dias requer um
milagre. Uma vez que Jesus teve que enfrentar a tentação, como representante do
homem ele não podia empregar nenhum outro meio para vencê-la além do de um
homem cheio do espírito Santo. Após os quarentas dias de jejum, entra em êxtase
espiritual. Êxtase (arrebatamento íntimo, admiração de coisas sobrenaturais),
ou seja, levado em espírito.
Aqui
há uma referência direta ao Êxodo, lugar de provações. Aqui o autor coloca
Jesus na figura de Moisés que no deserto não conseguiu vencer a prova e que
Jesus também foi para o deserto e lá foi provado, não quarenta anos, más
quarenta dias e saiu vitorioso.
O
primeiro deserto a que Jesus é submetido é uma solidão interior, pois nem
sempre o deserto se refere a um lugar geográfico, mas também a lugar
desabitado, despovoado ou estar sozinho, nesta experiência Jesus é levado para
fora do seu corpo, isso acontece numa situação de solidão interior, que em
primeiro plano não deve ser entendida como ir para um lugar geográfico, mas sim
como uma situação espiritual, após quarenta dias desse deserto (solidão
interior) entra em êxtase espiritual e de dentro desse primeiro deserto faz uma
viagem extática (posto em êxtase) o êxtase, a saída do corpo e a visão de Deus
são simbolicamente expressos na estrutura literária da “viagem extática”. [2] Existem vários tipos de
“viagens extáticas” sendo que as mais conhecidas, na literatura antiga, são a
viagem ao céu, a descida ao inferno e a viagem pela terra. Vamos analisar as
três, procurando elementos para entender a “estranha viagem” de Jesus no relato
da tentação.
2.1-
Viagem ao céu: É a mais comum das viagens, sobretudo na
literatura apocalíptica, nos capítulos 4
e 5 do livro do apocalipse
encontramos alguns elementos de viagem
celestial. (Ap-4:2) e logo fui arrebatado em espírito, e eis que
um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.
Segundo
a tradição o apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, quando este estava só
na ilha de Patmos e enviou-o às sete igrejas na Ásia Menor (1:11), no capitulo 4, João
é levado em espírito para o céu, nesta viagem é acompanhado por alguém, vê um
trono, alguém assentado sobre este trono, tem a visão de anjos, do que vai
acontecer, audição e revelação.
Em
comparação com o nosso objeto de estudo, (Mt-4:1-11)
encontramos os seguintes elementos comuns: O êxtase, assim como João Jesus é
levado em espírito, situação de solidão interior, Jesus também só que por um
anjo decaído, o diabo, a subida ao ponto
mais alto ou ao céu, Mateus não faz referência a Jesus atravessando vários
céus, mas sim a Jesus sendo levado ao ponto mais alto do templo e a um monte
muito alto, de lá Jesus contempla não o trono de Deus mas o de satanás ou seja
os reinos sobre os quais ele exerce sua autoridade e pelos quais ele pede para
ser adorado.
2.2-
Descida ao inferno: No evangelho de Bartolomeu (citado por
Justino em 150 d.C) fala da descida de Jesus ao inferno com o objetivo de tirar
dali Adão e todos os que com ele se encontravam e de acorrentar o diabo, “ Quando
ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no
lenho, e os anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas
e eu estava a tudo contemplando. Eu vi como desapareceste da cruz e só pude
ouvir os lamentos e o ranger de dentes
que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde
fostes depois da cruz? Jesus então respondeu desta forma: Feliz de
ti,Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora
podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a
conhecer. Quando desapareci da cruz, desci aos infernos para dali tirar Adão e
a todos que com ele se encontravam, cedendo às súplicas do anjo Gabriel”
No novo testamento
vemos isso em (Ef-4:8-10) “pelo
que diz subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora,
isto ele subiu que é, senão que também, antes, tenha descido as partes mais
baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os
céus, para cumprir todas as ciosas”.
Ainda temos (Rm-10:6-7), (1Pe-3:18-20),
(1Pe-4:6).
2.3-
Viagem pela terra: Na literatura judaica antiga a viagem
pele terra por um agente celestial não era novidade, no livro de Enoque temos o
seguinte relato: (1En-17) “Eles levantaram-me a um certo
lugar, onde lá havia a aparência de um fogo fervente; e quando eles se
agradaram assumiram a semelhança de homens. Eles levaram-me a um alto lugar, a
uma montanha, cujo topo alcançava o céu. E eu vi os receptáculos da luz e do
trovão nas extremidades do lugar, onde ele era profundo. Havia um arco de fogo,
e flechas em seu vibrar, uma espada de fogo, e toda espécie de relâmpagos.
Então eles levaram-me a um arroio
murmurante, e a um fogo no oeste, o qual recebeu todo pôr-do-sol. Eu vim a um
rio de fogo o qual fluiu como água e desaguou no grande mar para o oeste. Eu vi
todo largo rio, até que cheguei a grande escuridão. Eu fui para onde toda carne
migra; e vi as montanhas da escuridão as quais constituem o inverno, e o lugar
do qual flui a água em cada abismo. “Eu
vi também as bocas de todos os rios do mundo e as bocas das profundezas”.3 No testamento de Abraão,
documento redigido talvez no Egito entre o I e o II século d.C, encontramos o
relato de uma longa viagem de Abraão pela terra. Deus manda o arcanjo Miguel
falar com Abraão sobre sua morte para que ele dê disposição sobre suas posses.
E Abraão faz um pedido a Deus, por intermédio de Miguel: “Enquanto
estou ainda neste corpo, gostaria de ver todo mundo habitado e todas as coisas
criadas, que tu estabelecestes, Senhor, através de uma palavra e depois de ter
visto essas coisas, eu deixo a vida sem
tristeza” (9,6).
Então Miguel pega Abraão em um carro de querubins e o levou pelo ar do céu e o
conduziu numa nuvem, onde estavam outros 60 anjos.
3- A viagem de Jesus:
Analisando
a viagem de Jesus na tentação, notamos que ele não sobe ao céu nem desce ao
inferno, é uma viagem pela terra que mistura elementos da viagem celestial e da
descida ao inferno, ele é levado a três lugares diferentes e reais, de dentro
do seu primeiro deserto (solidão
interior) ele parte através do êxtase espiritual (em espírito) para o segundo deserto, agora lugar físico, este
deserto é normalmente identificado como o deserto da Judéia que se estende para
oeste de Jerusalém em direção ao mar morto e ao rio Jordão, a tradição popular
identificou sempre este lugar como a morada do diabo.
3.1-
As três tentações:
a)
A tentação de transformar pedras em pães:
(v.3) E aproximando-se o
tentador disse a ele: se és filho de Deus, dize para que estas pedras se tornem
pães.
(v.4) Mas ele respondendo disse:
está escrito: não de pão somente viverá o ser humano, mas de toda palavra
saindo por (a) boca de Deus.
[3]Transformar
pedras em pães era reconhecido como o sinal dos últimos tempos que o messias
poderia realizar. Este seria o grande sinal revelador de sua identidade e o
colocaria na tradição dos grandes profetas do passado: de Moisés que deu maná
para o povo no deserto (Ex-16), de
Elias (1Rs-17), de Eliseu (2Rs-4); do pão de graça que, com vinho
e leite, são a promessa para os últimos tempos (Is-55:1-2).
Quando
Jesus recusa transformar pedras em pães, na realidade ele está também afirmando
que sua comida é diferente, pois um ser divino nunca comeria pão como os
homens, não comer pão ou comida terrena é típico de seres celestes e também dos
homens que tem experiências extáticas. Abraão, viajando em companhia do anjo
Javel até o trono de Deus declara: (Ap.Abr-12-1)
“Assim nós
partimos e juntos permanecemos durante quarenta dias e quarenta noites. Não
comi pão, nem bebi água, porque o meu alimento era contemplar o anjo que estava
comigo e a minha bebida era a sua palavra”.
Jesus
cita (Dt-8:3), que é a tentação do
povo no deserto, aqui também há uma alusão a (Gn- 3:1-5) onde a serpente identificada como satanás faz a
tentação a Eva, que por sua vez cedeu, fazendo ceder também Adão, que não
olharam para o que saiu da boca de Deus em (Gn-2:17)
“ mas
da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que
dela comeres, certamente morrerás”.
Mateus escreveu seu evangelho para os
judeus e apoiando-se na revelação, promessas e profecias do A.T, tenta provar
que Jesus era o Messias, é como se ele estivesse dizendo: olha o povo da
promessa liderado por Moisés foi levado ao deserto para ser tentado e sucumbiu,
mas Jesus foi levado para o deserto e venceu, olha o primeiro Adão foi tentado
a comer e comeu, mas Jesus o segundo Adão venceu e não comeu.
Aqui Jesus foi tentado pelo diabo, no
sentido de usar o seu poder para proveito próprio: transformar pedras em pães
no momento de intensa fome, o objetivo de satanás era produzir na mente de
Jesus, que aquelas pedras, se ele quisesse se tornariam em pães, e assim
estaria obedecendo a uma ordem direta de satanás. O ataque de satanás foi
exatamente em uma área carente de Jesus naquele momento. O tentador não tem a
intenção de expor Jesus e destruir sua reputação desta maneira. Suas intenções
são bem definidas e deliberadas. Seu objetivo vai em outra direção. Seu
objetivo preciso é incitar Jesus a provar que de fato é o filho de Deus, mas por
quê? Que vantagem ele, o diabo, teria com isso? Na verdade seria ele, o diabo,
que determinaria as ações de Jesus, seria ele quem teria, na verdade, o poder,
seria em seu nome e para sua glória que os milagres seriam feitos.
b) A tentação no pináculo do
templo:
(v.5)
Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a ele sobre o
pináculo do templo,
(v.6)
e
diz a ele: Se és filho de Deus, joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos
anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que
não batas contra pedra o teu pé.
A
relativação do corpo físico no ser transportado pelo céu, passando, num piscar
de olhos, de uma situação física para outra, ficaria impossível se Jesus
estivesse realmente com seu corpo físico no deserto da Judéia. Depois de
vencida a primeira tentação, o diabo transporta Jesus em espírito pelos céus e
o leva para o templo de Jerusalém. Ficar na ponta do templo de Jerusalém é uma
ação tipicamente messiânica, pois se acreditava que quando o messias chegasse
se colocaria no lugar mais alto do templo, (Ml-3:1).
A
palavra do diabo tem o intuito de apresentar muita piedade, ele toma medidas
baseado na existência divina. Pois, agora, o que está em jogo não é a honra do
filho de Deus, mas a honra do próprio Deus: ”Aos anjos dele ordenará a respeito
de ti” (v.6). O poder de Deus será
respeitado, o que significa (de acordo com a lógica do tentador) que será
permitido “operar” e esta obra deve ser “expressa”. Mas aqui não está em jogo
apenas a importância soberana do próprio Deus, o Deus cuja honra o tentador
parece atribuir tanta importância. Ele vai além e reitera sua pergunta com as
próprias palavras de Deus: “está escrito”
(Sl-91:11-12).
Jesus, para refutar o
diabo, diz: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. (v.7ª). Jesus faz uma alusão à (Ex-17:1-7) que na jornada pelo deserto
de Sim, o povo contende com Moisés pela falta de água, onde deram o nome
daquele lugar Massá e Meribá, (tentação e contenda) por causa da contenda dos
filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio
de nós, ou não? (v.7). Pelo que isso
também se refere ao problema de não colocar pão acima da palavra. (Mt-6:25-34).
c)
A tentação dos reinos do mundo:
(v.8)
De
novo toma o diabo consigo a ele para um monte muito alto e mostra a ele todos
os reinos do mundo e a glória deles.
(v.9)
E disse a ele: Estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim.
Jesus
é transportado mais uma vez como num piscar de olhos, o cenário agora é uma
montanha, cujo nome não é identificado, a partir da qual podia ver todos os
reinos do mundo. A visão do mundo materialmente é impossível, pois não existe
montanha tão alta que possibilite uma abrangência universal. Algo semelhante
aconteceu com o apóstolo João (Ap-21:10).
Nesta
tentação, satanás tem o objetivo de vencer Jesus pela visão, astutamente de um
monte alto, onde a visibilidade é maior, descortina diante dos olhos de Jesus,
os reinos do mundo e a glória deles, o que satanás oferece a Jesus não é nada
material ou físico, mas sim, transigência, poder terreno, artifícios políticos,
violência, domínio, popularidade, honra e glória humana. Esta estratégia é
muito antiga, começou lá no Éden (Gn-3:6).
Ló foi seduzido pela visão da campina do Jordão e fracassou (Gn-13:10-11). No sermão do monte,
Mateus escreve que a lâmpada do corpo é o olho e que se o olho for bom, todo
corpo será iluminado. No monte, como Moisés, pode-se controlar o povo.
Encontramos
aqui uma visão “terrestre” do trono celeste: o diabo se declara senhor dos
reinos da terra habitada, propõe toda esta glória a Jesus, mas exige em troca,
culto e adoração, nesta tentação o diabo revela o seu maior desejo, ser adorado
por Jesus. O verbo adorara do nosso texto bíblico em pauta: “estas coisas todas
a ti darei, se prostrando-te adorares a mim”. (v.9) é “proskuneo” (grego), que dá a idéia de curvar-se a tal
ponto de beijar os pés, Jesus responde dizendo a ele, que este tipo de
adoração, somente Deus é digno de receber, que o único Senhor é Deus tanto no
céu como na terra e só a ele se presta culto, (v.10). Podemos interpretar que por trás da afirmação de Jesus,
“está escrito: o Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto”, tenha
uma ordem explícita para o diabo voltar a sua real condição angelical
dependente e a serviço do Altíssimo e não opositor e adversário dele.
Antes
da tentação em (Mt-3:17b) está
escrito: “Este é o meu Filho amado”.
É o próprio Deus que reconhece Jesus. (Só espere reconhecimento de Deus). As
duas primeiras tentações o diabo usa as condicionais “Se tu és o Filho de Deus,” satanás baseado no fato de que Jesus é o
Filho de Deus. Nas condicionais “se
tu..” o tentador não leva isso em consideração. Ele está bem preparado para
reconhecer que Jesus é o Filho de Deus, tem duvidas apenas das razões táticas
para desempenhar alguns milagres. O diabo não apenas está sendo grosseiro como
procura ridicularizar o Senhor ou rir dele porque falha em operar milagre.
O
que o diabo quer dizer por Deus e Filho de Deus não é Deus absolutamente, mas
um fantoche a quem o diabo faz encaixar em seus propósitos, e pode fazê-lo
dançar pular, operar o milagre do pão, pular do pináculo do templo. Este deus
não é o Senhor do diabo, mas seu escravo. O diabo o usa a fim de depositar as
grandes questões da vida em sua conta pessoal.
4- Paralelismo:
(v.3a)
E,
chagando-se a ele o tentador,
(v.11a)
Então,
o diabo o deixou;
No
começo da tentação se aproxima satanás, neste momento é manifesto o reino das
trevas, Jesus é tentado, torturado psicologicamente e depois de todo este
processo ele vence. Derrotado, o diabo retirou-se e Jesus foi servido pelos
anjos, neste momento é manifesto o reino de Deus.
Analisando
este texto pude entender melhor (Tg-4:7)
“Sujeitai-vos, pois a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”
CONCLUSÃO
Quando
Jesus disse e fez tudo isso contra o diabo, “então o diabo o deixou, e os anjos
o serviram.”
Que
conclusão para esta hora! E o reino dos céus e do inferno inclusos neste
momento! Cristo foi “tentado como nós” esta é a maravilha desta hora. Pois
porque ele foi tentado, tem compaixão das nossas fraquezas, temos um irmão
quando o perigo mais ameaçador da vida se aproxima. Agora, não existe mais
solidão
Sim,
existe outra maravilha em tudo isso: ”ele foi tentado em tudo, como nós, porém
sem pecado”.
Será
que conseguimos entender o que isso significa?
Desde
o princípio sabemos como Jesus havia sido levado ao deserto, sozinho, para ser
tentado, e não obviamente, para participar de um mundo de oportunidades
pecaminosas e sedutoras. Esta foi a dica que recebemos quanto ao significado da
tentação; pois já estudamos que o segredo da tentação é a tentabilidade do
homem. Este segredo é pertinente ao próprio homem, não fora dele, não, por exemplo,
nas oportunidades pecaminosas. O abismo está inserido, mesmo se ele o evitar
milhares de vezes. Ele é tentado a roubar porque é um ladrão, mesmo se ele não
rouba de fato. É tentado a matar porque é um assassino, apesar do fato de nunca
ter matado ninguém.
E
assim, a possibilidade de sermos tentados a mentir, roubar, adulterar, nos
prova que somos criaturas mentirosas. Não podemos mudar esta constituição
fundamental da vida mesmo que lutemos pela verdade e contra cada mentira em
cada nervo do corpo e na alma. A tentação à mentira continua; o abismo em nós clama;
o pecado ali está à espera do desejo implacável. Esta é a pavorosa e
inspiradora lição da tentação. “Miserável homem que sou! Quem me livrará do
corpo sujeito a esta morte?” (Rm-7:24).
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