Por
Mario Marcos
Introdução
Utilizando
o método histórico-crítico: tradução do texto, forma, delimitação, data, lugar
e por fim assunto de conteúdo. Nesse trabalho, procuramos realizar um estudo
exegético tendo por objeto de estudo o texto de Is 3,16-4,1. Por fim, oferecemos
uma atualização do texto com uma mensagem para os dias atuais.
16 O SENHOR disse:
Já que as filhas de Sião são orgulhosas,
e andam de pescoço esticado
distribuindo olhadelas,
caminhando a passos saltitantes
fazendo tilintar os guizos dos seus pés,
17 o Senhor cobrirá de
sarna o crânio
das filhas de Sião,
o SENHOR lhes descobrirá o sexo.
18 Nesse dia, o Senhor as
despojará dos seus adornos:
guizos, sóis, luas,
19 pingentes, braceletes, véus
20 turbantes, pulseiras,
correntinhas, talismãs, amuletos,
21 anéis, argolas de
nariz,
22 vestidos de festa,
cachecóis, xales, bolsas de mão,
23 espelhos, camisas de linho, faixas,
Mantilhas.
24 Em vez de perfume,
podridão,
de cinto, uma corda,
de tranças caprichadas, cabeça
raspada,
de roupa fina, tanga de saco,
uma marca infamante em vez de beleza.
25 Teus varões cairão sob a espada,
tua elite, no combate.
25 As tuas portas gemerão e se
lamentarão;
despojada, estarás sentada no chão.
1 Nesse dia, sete mulheres se atracarão a um só homem,
dizendo-lhe:
“Proveremos à nossa comida,
proveremos ao nosso vestir,
desde que possamos usar o teu nome:
tira a nossa desonra!”
1.
Forma
Descrição do orgulho das filhas de
Sião..........................................v.16
O juízo às filhas de Sião: Vergonha
e despojamento das jóias..........v.17-24
O juízo às filhas de Sião: Viuvez....................................................v.25,26
e 4,1.
2.
Delimitação
Esta perícope é uma das subunidades dentro de um panfleto (2,1-4,1),
provavelmente “um dos ‘livros’ que constituem a memória profética isaiana.”[2],
onde temos a “palavra de Javé” (v.16) especificamente para, aqui chamadas, as
filhas de Sião.
3.
Data
Este texto situa-se em primeiro Isaias, portanto é pré-exilíco, após a
queda do reino do norte e antes da invasão do reino do sul. Esse panfleto
situa-se em torno de 740 a.C.[3]
4.
Lugar
As subunidades do panfleto 2,1-4,1 são contra Judá e Israel. É provável
que tenham sido produzidas para uma comunidade camponesa fora da cidade, pois
denuncia o poder que se encontra nas áreas urbanas e, portanto, as vítimas da
ingerência social aqui apresentada são os pobres e explorados do campo.
5.
Assuntos de
conteúdo
No v.16 o texto é introduzido com a
palavra de Javé, pois “O SENHOR disse”. É descrito por essa palavra o tom de
orgulho a altivez com que algumas mulheres em Sião se comportavam, as
expressões como “orgulhosas”, “pescoço esticado”, “distribuindo olhadelas”,
“passos saltitantes” e “fazendo tilintar os guizos” falam de atitudes de
desdém, de soberba, de insulto contra os pobres dado ao luxo com que essas
mulheres viviam, certamente a custa de exploração.
O v.17 traz o juízo da desonra a
essas mulheres, pois teriam suas cabeças cobertas de sarna e estariam com suas
partes íntimas a mostra. Ou seja, seriam despojadas de todo o seu luxo e
orgulho para serem humilhadas. Certamente, ao que o contexto maior do panfleto
nos indica, uma alusão a como os pobres já viviam para que essas mulheres
andassem no luxo: despojados de sua honra, “nus” no sentido de estarem
“despidos” daquilo que é essencial para a vida: a comida, a moradia, etc. São
descritos em detalhe todas as jóias e adornos que essas mulheres possuíam
(v.18-23). O v.24 traz o recurso da antítese, pois o juízo prometido era de que
ao invés do perfume, do cinto, das tranças caprichadas, da roupa fina e da
beleza, essas mulheres receberiam a podridão, uma simples corda, a cabeça
raspada, a tanga de saco e uma marca infame. Ou seja, o despojamento dos bens
materiais adquiridos certamente pela exploração que seus maridos fizeram contra
os mais pobres, e a vergonha.
A vergonha porque conforme nos
indicam os v.25,26 e 4,1, seus maridos seriam mortos ao fio da espada e elas
estariam viúvas. Como para uma mulher naquela época e lugar era uma vergonha a
viuvez, essas mulheres certamente não teriam mais os luxuosos adornos e
mendigariam a comida e a vestimenta. O texto ilustra como os pobres já viviam
por causa da exploração: sem honra, sem comida e sem vestido. O autor procurou
demonstrar que Javé com o seu juízo viraria esse jogo de cabeça para baixo.
6.
Atualização
Esse texto é muito interessante para
ilustrar os acontecimentos dentro da política brasileira ou mesmo da América
Latina ou de todos os países que são explorados. Para que os países
desenvolvidos sejam ricos fazendo “tilintar os seus guizos”, isto é, os seus
milhões, a sua riqueza e o seu alto desenvolvimento, lugares como a África, e
outras tantas terras pobres que foram e têm sido exploradas, ficam a mercê da
pobreza. Seus recursos naturais são retirados para que o capitalismo produza
bens que vão “enfeitar” as mulheres ricas, porque as viúvas pobres dos países
explorados continuam usando “cordas” para amarrarem seus panos de saco, que são
suas únicas roupas. Esse texto nos mostra que é preciso desestabilizar essa
estrutura exploradora, virar o jogo de cabeça para baixo.
Bibliografia
________.Bíblia
Tradução Ecumênica. São Paulo: Loyola, 1994.
SCHWANTES, Milton. Da vocação à provocação: Estudos exegéticos
em Isaías 1-12. São Paulo: Oikos,
2011.